segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Tem carta de renúncia na praça, quem não leu ainda?

OPINIÃO
20/12/2009
Edson Lopes Cardoso
edsoncardoso@irohin.org.br

Não sei se o ministro Edson Santos pretende se unir ao grupo de ministros que se antecipará ao prazo legal de desincompatibilização. Sugerimos que considere seriamente essa alternativa. Os desdobramentos da intervenção desastrada, sua e de sua equipe, na tramitação do Estatuto da Igualdade Racial no Congresso não pedem menos do que isso.
Esta coluna de opinião comentou em 08/11 o artigo em que Santos anunciava triunfante o resultado de amplo acordo costurado na Câmara dos Deputados, que ele definia como “a mais importante ferramenta para os negros alcançarem a igualdade real de oportunidades” (O Globo, p. 7).

Alertávamos então o ministro de que era grave erro político imaginar que, sempre que o assunto envolvesse negros, não haveria elementos suficientes para permitir a distinção entre verdade e mentira. Dias depois (26/11) avisávamos também de que o processo seria muito mais doloroso no Senado. Insinuamos até umas imagens chulas, mas o caso era de fato obsceno, fazer o quê?

Curiosamente, o senador Paulo Paim, que aparecia em primeiro plano na foto de comemoração da aprovação do acordo na Câmara, somente agora busca acentuar seus inconvenientes. Inês é morta. Na hora de peitar, todos – ou quase todos cantaram ‘o sorriso negro e o abraço negro’ e repetiam que era o ‘primeiro passo’. Para onde mesmo?

A situação do ministro é mais delicada porque, enquanto Paim simula contrariedade tardia e sonsa com o resultado das negociações na Câmara, Santos não tem um subalterno para responsabilizar nessa hora amarga. Ele pessoalmente conduziu o processo de negociação na Câmara. O líder do governo na Casa, pelo que se pode depreender, estava ocupado com matérias relevantes para o Executivo.

No jornal “O Globo” de hoje ( 20.12.2009, p. 9), o repórter Evandro Éboli afirma que “O governo acompanha com lupa, bem de perto, todos os projetos que tramitam no Congresso Nacional. O zelo é tanto que cada ministério emite parecer semanal sobre as propostas mais importantes de sua área”. É verdadeiro isso, excetuando-se, é claro, aqueles projetos que digam respeito diretamente ao negro. Qual a posição de ministérios e da bancada do governo, na Câmara e no Senado, sobre o Estatuto? Posso assegurar que ninguém se importa. Essa é uma das razões que explicam porque um partido minoritário e desmoralizado como o DEM cresce tanto pra cima de preto bobo.

No Senado, a divisão é clara: o ministro entra por uma porta, para suplicar clemência ao Demonstro da Torre, e o senador Paim, com uma entourage de ocasião, sai pela outra. A propósito, o que eles negociam mesmo?

É lamentável que nunca tenhamos uma controvérsia sobre quem afinal foi autorizado (Quando? Onde? Por quais instâncias coletivas?) a participar de negociações dessa natureza. Talvez entrem na sala do monstro da torre com uma Bíblia e se fundamentem na verdade das Escrituras, que sei eu?

Por via das dúvidas, Paim foi ajeitar as coisas no Sul e sempre terá à mão o Estatuto do Idoso, do Caminhoneiro ou outra peça qualquer de campanha. Vai botar a fatura na conta dos deputados e, eventualmente, nas costas do DEM.

O ministro Edson Santos, deputado licenciado e líder da equipe que confundiu CNA – Confederação Nacional da Agricultura com CNA – Congresso Nacional Africano, já está muito mal na fita. Seus eleitores do Rio estão doidos para botar a mão na ferramenta, aquela que ele anunciou que iria demolir a obra da escravidão. Uma coisa é ser derrotado numa votação, defendendo interesses legítimos. Outra coisa é ser humilhado numa negociação e ainda sair cantando vitória (“O sorriso negro...”).

Reynaldo Fernandes assumiu a responsabilidade pelos erros na prova do Enem, e renunciou ao cargo de presidente do Inep. Tem carta de renúncia na praça, quem não leu ainda?


http://www.irohin.org.br/onl/new.php?sec=news&id=4974

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