quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Aluna do Mackenzie ameaçada de prisão diz ter sido humilhada Estudante é acusada de racismo por professor; reitoria se reúne para discutir caso


publicado em 31/08/2011 às 12h10:


Estudante é acusada de racismo por professor; reitoria se reúne para discutir caso 
Aluna do Mackenzie ameaçada de prisão diz ter sido humilhada

Renan Truffi, do R7

Humilhada. Foi como se sentiu a aluna do 5º semestre do curso de direito do Mackenzie, na última sexta-feira (26), depois que discutiu nos corredores da universidade com o professor e procurador de Justiça Paulo Marco Ferreira Lima.
A estudante diz ter sido ameaçada de voz de prisão pelo professor, que dá aulas de direito penal no campus Higienópolis da universidade, localizado na capital paulista.
Tatiana, que aceitou conversar com a reportagem do R7 com a condição de que seu sobrenome não fosse divulgado, disse que o professor ficou “transtornado” no intervalo quando ela o abordou para contar que estava tendo dificuldades na aula e criticar a forma como ele aplicava a disciplina.
- Ele começou a gritar no meio do corredor, fazendo o maior escândalo. Ele recebeu isso muito mal e falou: 'Olha, sou professor há 20 anos. Quem você pensa que é para questionar a minha forma de ensinar?'.
Segundo Tatiana, ela tentou acalmar Lima ao explicar que não queria ofendê-lo, mas o professor cogitou resolver o problema na direção da universidade antes de mudar de ideia e se encaminhar para a sala de aula.

- Quando a gente se direcionou para a sala, a filha dele, que é aluna também, chegou. O professor abriu a porta e falou para mim: 'Não repita isso e você me respeite porque eu sou procurador de Justiça.' Eu falei: professor, em nenhum momento eu desrespeitei o senhor. Eu só fui falar sobre a minha dificuldade e, por favor, não grite comigo. Então a filha disse que ele não estava gritando, mas dando voz de comando, como seu fosse um cachorro ou sei lá o quê.
Depois disso, Tatiana alega que o professor bateu a porta da sala na sua cara, sendo que a classe estava lotada de colegas. Como ela insistiu em tentar conversar, o procurador teria começado a gritar e descido às escadas para pedir a ajuda de um segurança.
- O corredor estava cheio de gente e a sala de aula também. Além disso, eu sou nova na turma e, por isso, fiquei emocionalmente abalada. Em seguida, abri a porta e falei para ele me respeitar: 'o senhor acabou de bater a porta na minha cara'.

Ânimos exaltados
O problema se agravou quando o professor e a aluna desceram de andar. No piso inferior, a discussão continuou e os ânimos se exaltaram.

- Eu fui na direção de um segurança e pedi para chamar o coordenador [do curso] ou alguém para falar comigo, porque eu não conseguia conversar com o professor. Foi nessa hora que ele se colocou falando comigo não mais como professor. Eu vou repetir as palavras dele: “Olha, você não me dirija mais a palavra e não dirija mais a palavra ao segurança. Nesse momento, eu estou falando com você como procurador de Justiça, você está me entendendo? Se você continuar se dirigindo a mim ou ao segurança, eu vou lhe dar voz de prisão.”

Para Tatiana, a atitude do professor foi “abuso de poder” e causou “constrangimento ilegal”. O diretor da Faculdade de Direito do Mackenzie atendeu a estudante e está reunido com o reitor para discutir o caso, segundo a assessoria da universidade. A posição oficial sobre o tema deve ser divulgada quando acabar a reunião, afirmam os assessores.

Racismo
Nesta terça-feira (30),  Marco Antônio Ferreira Lima, que é irmão de Paulo Marco Ferreira Lima e também professor do Mackenzie, publicou mensagens no Facebook em que acusa a estudante Tatiana de racismo.
Segundo o texto publicado pelo professor na rede social, a aluna chamou seu irmão de “preto sujo, disse que preto não pode ter poder e que preto dando aula no Mackenzie nunca deu certo”. No entanto, Tatiana se defende ao explicar que vários alunos e funcionários presenciaram a discussão.
- Ele é moreno. Ele é da minha cor praticamente. Eu que sou morena. Tenho, inclusive, parentes afrodescendentes. Foi o irmão dele que falou isso. Eu nem conheço o Marco. Mas isso foi uma coisa que ele resolveu colocar no Facebook. Sou uma aluna bolsista e jamais iria desrespeitar um professor.
O diretor do Centro Acadêmico Mendes Jr, Rodrigo Rangel, que representa os alunos da Faculdade de Direito do Mackenzie, saiu em defesa de Tatiana.
Ele diz que conversou com o professor Paulo Marco Ferreira Lima na segunda-feira (29) e que o docente não mencionou racismo em nenhum momento.

- O próprio professou ligou para nós. Veio tomar um café comigo. Explicou que foi um mal-entendido e que estava de cabeça quente, apesar de considerar desrespeitosa a atitude da aluna. Segundo ele, como a aluna não respeitou quando ele a mandou parar, o professor se impôs como procurador porque foi a única alternativa que ele diz que teve para acalmar os ânimos. E nós lançamos uma nota de repúdio contra essa atitude.
A reportagem do R7 ainda não conseguiu entrar em contato com os professores Paulo Marco Ferreira Lima e Marco Antônio Ferreira Lima.
*Colaborou Rafael Sampaio, do R7

0 comentários: