sábado, 30 de janeiro de 2010

Publicações destacam destino dos negros na Alemanha nazista

30.01.2010

Publicações destacam destino dos negros na Alemanha nazista

Pouco se sabe sobre a pequena comunidade negra que viveu na Alemanha
na época do Terceiro Reich. A Deutsche Welle lança um olhar sobre suas
estratégias de sobrevivência durante o regime opressor de Hitler.

Entre 20 mil e 25 mil negros viviam na Alemanha durante o regime
nazista. Quando questionados sobre os negros no Terceiro Reich, os
alemães costumam falar sobre a mostra Afrika Schau. Em seu livro
Hitler's Black Victims (As vítimas negras de Hitler, em tradução
literal), o pesquisador norte-americano Clarence Lusane descreve
Afrika Schau como uma mostra itinerante iniciada em 1936.

Os responsáveis pelo "show" eram Juliette Tipner, cuja mãe era da
Libéria, e seu marido branco, Adolph Hillerkus. O objetivo do
"espetáculo" era mostrar a cultura africana na Alemanha.

Em 1940, a Afrika Schau foi retomada pela SS e por Joseph Goebbels,
que "esperava que isso fosse útil não só para propaganda e fins
ideológicos, mas também como maneira de reunir todos os negros no país
sob um mesmo teto", escreve Lusane. Para seus participantes, a Afrika
Schau tornou-se um meio de sobrevivência na Alemanha nazista.

Para a historiadora norte-americana Tina Campt, cuja pesquisa trata da
diáspora africana na Alemanha, "era possível que os negros nela
envolvidos a usassem para fins não previstos por quem a organizou. Se
por um lado a Afrika Schau desumanizou pessoas, por outro lado, para
os participantes, era uma oportunidade de ganhar dinheiro, como também
um local para se comunicar com outros negros".

Contudo, o show não teve sucesso e foi encerrado em 1941. Além disso,
ele não tinha condições de reunir todos os negros no país sob um
pavilhão, possivelmente porque ele só aceitava negros de pele mais
escura, segundo o estereótipo do que era considerado africano.

Os "bastardos da Renânia"

A maioria dos negros de pele mais clara que vivia na Alemanha durante
o Terceiro Reich era formada por mestiços, e um bom número deles eram
filhos dos soldados franceses negros das tropas de ocupação com
mulheres da Renânia.

A existência dessas crianças é e continua sendo de conhecimento
público, porque elas foram mencionadas no livro Minha Luta, de Hitler.
Na Alemanha nazista, eles foram descritos com o termo depreciativo
"bastardos da Renânia".

A Deutsche Welle conversou com o historiador alemão Reiner Pommerin
para descobrir o que aconteceu com estas crianças. "Publiquei um livro
nos anos 1970 sobre a esterilização dos mestiços. Foram crianças
geradas pelas forças de ocupação – principalmente as francesas",
disse.

Seu livro Esterilização dos bastardos da Renânia. O destino de uma
minoria negra alemã 1918 - 1937 enfoca a esterilização da minoria
negra na Alemanha nazista.

Sem plano de extermínio sistemático

Antes da publicação do livro, em 1979, essa informação era
desconhecida para o público. A esterilização de crianças birraciais
foi realizada secretamente porque violava as leis nazistas de 1938. Os
números exatos permanecem desconhecidos, mas estima-se que 400
crianças mestiças foram esterilizadas – a maioria sem o seu
conhecimento, disse Pommerin.

Hoje, o destino dos "bastardos da Renânia" ainda permanece em grande
parte desconhecido. Essa falta de conhecimento pode estar relacionada
à "falta de interesse público em relação a minorias", crê Pommerin. Já
Campt atribui isso ao sigilo por trás do programa de esterilização e à
natureza da Afrika Schau. "Isso tem a ver com o status do Afrika Schau
como espetáculo. Assim, ele foi criado como um espetáculo visual, que
deveria levar as pessoas a vê-lo como uma exibição", complementou.

Segundo Campt, a principal diferença entre a vivência dos negros e a
de outros grupos no Terceiro Reich é a falta de um plano sistemático
de extermínio nazista. Além disso, devido ao pequeno número de negros
que viviam no país, poucos estão dispostos a reconhecer que vale a
pena discutir sobre o destino dessa população.

Apoio a pesquisadores

Além disso, pesquisadores que trabalham nesta área recebem pouco ou
nenhum apoio na Alemanha. Nos Estados Unidos acontece o contrário. Lá
a pesquisa sobre minorias é bem financiada, devido ao legado do
Movimento pelos Direitos Civis.

"Estudiosos alemães negros que pesquisam há anos não necessariamente
obtêm reconhecimento com base em qualificações, com base em se estão
ou não trabalhando dentro de certo tipo de estrutura acadêmica para o
estudo das culturas de minorias", disse Campt.

Embora a publicação do livro de Pommerin sobre a esterilização dos
"bastardos da Renânia" não tenha recebido muito interesse por parte do
público, ele recebeu certa atenção do setor político alemão. Um membro
do Partido Social Democrata questionou se poderia obter os nomes das
vítimas, para que pudessem ser indenizadas.

Pommerin disse à Deutsche Welle que "(o político) pretendia destinar
para isso mais de 2 mil dólares. Eu sabia onde eles moravam, mas eu
não queria incomodar essas pessoas, porque eu poderia dizer que se
tratava mais de interesse político. E eu podia ver as câmeras de tevê
diante das casas nos lugarejos onde o dinheiro seria entregue. E, de
repente, a grande sensação na vila – aqui está alguém que foi
esterilizado".

Autor: Chiponda Chimbelu (rw)

Revisão: Carlos Albuquerque

© Deutsche Welle

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