sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ateus fazem campanha para mostrar que são vítimas de preconceito

Ateus fazem campanha para mostrar que são vítimas de preconceito

“Somos a encarnação do mal para grande parte da sociedade”, diz presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA)

Danielle Nordi, iG São Paulo 29/07/2011 06:03








A campanha era para ser veiculada na parte traseira dos ônibus, mas empresas de São Paulo, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre se recusaram a fazê-lo. A saída foi utilizar outdoors. Pelo menos em Porto Alegre, que desde o começo do mês é a primeira cidade brasileira a exibir uma campanha que defende o ateísmo.



Originalmente, a associação pretendia usar as peças em ônibus, mas as empresas não aceitaram - Foto: Divulgação1/5
Afinal, o que há de tão problemático com os anúncios? De acordo com Daniel Sottomaior, presidente da organização responsável pela campanha, o que incomoda é o conteúdo. Ele diz que as mensagens foram feitas com o objetivo de conscientizar a população de que o ateísmo pode conviver com outras religiões e não deve ser encarado como uma deficiência moral. “Todos os grupos que sofrem algum tipo de preconceito procuram fazer campanhas educativas para tentar minimizar o problema. Foi o que fizemos”, afirma.

Leia também:
Você sabe o que é fanatismo religioso?
Conversão religiosa: a escolha de uma nova crença

Diante das mensagens veiculadas nos outdoors, as reações foram variadas. “Foram interpretadas como provocação por alguns grupos religiosos. Além disso, muitos acharam de mau gosto ou preconceituoso. Acho que isso foi coisa de quem não entendeu ou não quis entender”, diz. Daniel diz que seu objetivo é mostrar que ser ateu é difícil. “As pessoas ficam chocadas quando você revela que não acredita em um deus. Muitos chegam a perder emprego e, principalmente, amigos”.

Punição
Para o sociólogo americano e estudioso das religiões Phil Zuckerman o ateísmo ainda é fonte de muito preconceito. Segundo ele, ateus sofrem até mesmo perseguições. “Mesmo atualmente, em algumas nações, ser ateu é passível de punição com pena de morte. Nos Estados Unidos existe um forte estigma em ser ateu, principalmente no sul, onde a religiosidade é mais forte”, conta.

No Brasil, um país laico, a intolerância pode aparecer nas situações mais improváveis. A professora da Universidade Federal de Minas Gerais Vera Lucia Menezes de Oliveira e Paiva perdeu um filho de dois anos, atropelado. Diante do sofrimento da família no velório da criança, Vera escutou uma frase que a deixou bastante magoada. “Uma amiga me disse: ‘Quem sabe isso não aconteceu para você aprender a ter fé?’. Isso apenas reforçou minha convicção de que eu não queria acreditar em nenhum deus que pudesse levar o meu filho inocente”, revela.

Leia também:
Quero ser freira
Filhos de ateus buscam a fé fora de casa

Apesar de tudo, Vera afirma que não se perturba com comentários acerca de sua escolha. “Acho natural que uma pessoa religiosa queira demonstrar sua fé. Entendo e convivo com pessoas bastante religiosas sem problema algum. Só não gosto quando ficam argumentando sobre o quanto é maravilhoso acreditar em Deus. Tenho direito a ter minha crença pessoal.Ou a falta dela.”

Daniel diz que atitudes como estas, vindas de amigos e familiares, fazem com que ateus não “saiam do armário”. Ele afirma que esta expressão, usada inicialmente para descrever homossexuais que ainda não se assumiram, encaixa-se perfeitamente no momento pelo qual o ateísmo vem passando. “Estamos atrasados uns 30 anos em relação à luta contra o preconceito, se compararmos com homossexuais ou negros. Sou bastante cético, mas tenho a esperança de que possamos alcançar o mesmo patamar daqui a algumas décadas”, revela.

Exagero
Há quem veja afirmações como as dada por Daniel como exagero. O filósofo Luiz Felipe Pondé, professor da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), considera ações como as desenvolvidas pela ATEA como marketing. “O preconceito diminuiu muito, principalmente nos meios universitários e empresariais. Acho a comparação de ateus com negros e homossexuais um exagero. Tem um pouco de marketing aí.”

Leia também:
Será que você é preconceituoso e não sabe?
Quando o medo atrapalha o dia-a-dia

Pondé admite que muitas pessoas ainda têm dificuldade em enxergar a possibilidade de uma vida sem um deus. “Muitos associam moral pública à religião. Isso também é um absurdo. Pessoas matam umas as outras acreditando ou não em deus. O que acontece é que muitos ateus ficam alardeando coisas assim, mas acho que hoje o cenário já é bem diferente. Sofrer preconceito ficou chique”, afirma.

Apesar de não ser tão enfático, Zuckerman admite que em alguns lugares do mundo o ateísmo não é mais visto como algo depreciativo. “Em muitas sociedades, como no Canadá e na Suíça, ser ateu não tem nada de mais. A Austrália, por exemplo, tem um primeiro-ministro ateu. Cada país tem uma dinâmica diferente.”

http://delas.ig.com.br/comportamento/ateus+fazem+campanha+para+mostrar+que+sao+vitimas+de+preconceito/n1597105763135.html

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mistura de raças do Brasil é catastrófica, escreveu atirador da Noruega


25/07/2011 17h42 - Atualizado em 25/07/2011 19h42


Texto publicado na internet liga mistura de raças a desigualdade social.
Brasil seria exemplo de 'alto nível de corrupção e falta de produtividade'.

Do G1, em São Paulo


Documento tem o nome de Andrew Berwick na capa (Foto: Reuters)
A política de estabelecer uma mistura de raças europeias, asiáticas e africanas em países como o Brasil se provou “catastrófica” e resultou em altos níveis de corrupção, baixa produtividade e conflitos entre as diferentes culturas.
A teoria sobre o país está numa das páginas do manifesto atribuído a Andrew Behring Breivik, o norueguês de 32 anos que assumiu a autoria dos atentados que mataram ao menos 76 pessoas em Oslo, na última sexta (22).

Para o autor do documento, que tem ligações com a extrema-direita norueguesa, o “Brasil vem se estabelecendo como o segundo país do mundo com o menor nível de igualdade social". O texto não cita qual seria o primeiro.

“Os resultados são evidentes e se manifestam num alto nível de corrupção, falta de produtividade e um eterno conflito entre várias ‘culturas’ competindo, enquanto a miríade de ‘sub-tribos’ criadas (preto, mulato, mestiço, branco) paralisa qualquer esperança de sequer alcançar o mesmo nível de produtividade e igualdade de, por exemplo, Escandinávia, Alemanha, Coreia do Sul e Japão”, diz o texto do terrorista de extrema-direita na página 1.153.
Observando a falta de igualdade social no Brasil e a média de produtividade do brasileiro, continua o texto, “é evidente que uma abordagem similar na Europa seria devastadora e um atraso para as nações (...)”.
Intitulado “A European Delaration of Independence - 2083" (Uma declaração de Independência Europeia - 2083), o manifesto, que leva a assinatura "Andrew Berwick" na capa, foi publicado na internet apenas horas antes do massacre no país. Com várias referências históricas, o manifesto inclui numerosos detalhes da personalidade do agressor, seu modus operandi para fabricar bombas e seu treinamento de tiro, além de um minucioso diário dos três meses que precederam o ataque.
Anders Behring Breivik, à esquerda, é transportado em carro da polícia nesta segunda-feira (25) em Oslo, capital da Noruega (Foto: Reuters)Anders Behring Breivik, à esquerda, é transportado em carro da polícia nesta segunda-feira (25) em Oslo, capital da Noruega (Foto: Reuters)


As afirmações que relacionam raça e produtividades estão no trecho em que o autor trata das “razões por trás da oposição conservador à mistura de raças e adoção de não-europeus”. Em outro trecho, na página 1.161, o texto volta a citar o Brasil como exemplo de desigualdade social.

“(...) Um país que tem culturas que competem entre si vai acabar se dividindo internamente ou, a longo prazo, vai terminar como um lugar permanentemente disfuncional como o Brasil e outros países semelhantes”, diz. “Quando você acrescenta o Islã a esta mistura, o pior cenário muda de um país disfuncional para o fracasso total; a sharia [lei islâmica] e disputa entre povos”.

Acidente em GoiâniaHá pelo menos 12 referências aos termos “Brasil” ou “brasileiro” no documento, nem todas com o mesmo teor. No trecho em que trata sobre a fabricação de bombas, o autor cita o acidente radioativo com o césio 137 em Goiânia, que deixou centenas de mortos em 1987. “Seja extremamente cuidadoso quando lidar com material radiológico”, alerta na página 1.060.

Na página 1.287, o texto cita o Brasil em meio a países que se tornaram independentes com “golpes de estado sem sangue”. “Em 1889, o Brasil se tornou uma república via um golpe de estado sem sangue.” Em outra menção, o país está numa lista de nações que sofreram intervenções dos Estados Unidos. A anotação cita o ano de 1964 ao lado de “Acesso do comunismo a recursos e trabalhadores pobres”.
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/07/mistura-de-racas-do-brasil-e-catastrofica-diz-texto-de-atirador-da-noruega.html