quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

No ‘Dia Nacional do Samba’, os bambas convidam o povo a sair para a rua e sorrir

No ‘Dia Nacional do Samba’, os bambas convidam o povo a sair para a rua e sorrir

POR SARA PAIXÃO
Rio - Ai dos cariocas se não fosse o pandeiro, o ganzá e o tamborim! Jovelina Pérola Negra cantou e o compositor Guará escreveu em ‘Sorriso Aberto’ que o samba era o melhor jeito de nivelar a vida em alto-astral. É, hoje, Dia Nacional do Samba, a data oficial da volta por cima, desde a fatídica quinta-feira em que a onda de violência trancou cariocas em casa, e calou surdos e pandeiros. Na Central do Brasil e Leopoldina, acontecem os principais shows da programação prevista para durar até sábado, quando sairá o tradicional Trem do Samba rumo a Oswaldo Cruz e Madureira.
Foto: João Laet/ Agência O Dia
“Vamos fazer o povo voltar para a rua. A fase do medo passou. O samba é a trilha sonora do Rio. Candeia, Cartola e Nelson Cavaquinho vão nos abençoar para termos uma festa em paz e fazer o sorriso do carioca voltar”, aposta Arlindo Cruz, que recebe a cantora Maria Rita, na Estação Leopoldina. Por lá, o batuque começa às 6h30, com apresentação da Bateria da União da Ilha e compositores dos sambas-enredos vencedores para o Carnaval de 2011. 

O drama vivido pelos cariocas também sensibilizou Marquinhos de Oswaldo Cruz. O cantor compôs com Fred Camacho ‘Paz’, canção sobre o episódio ocorrido nos complexos da Penha e do Alemão. “É um reflexo do cotidiano. Que paz é essa com tanta miséria? Pedimos ao Pai Oxalá, Allah e Jeová para tombar uma paz que venha para ficar”, diz. 

Marquinhos retomou há 15 anos o Samba do Trem, criado por Paulo da Portela na década de 20. Antes de fundar a Portela, era nos vagões do trem que saía da Central do Brasil, às 6h40, que ele promovia os ensaios do Conjunto Carnavalesco Escola de Samba de Oswaldo Cruz. Atualmente, o evento chega a levar 50 mil pessoas ao bairro. 

“Deveria ser o Trem da memória do samba e da paz. É o único evento que atrai gente do morro, Zona Sul e subúrbio”, valoriza. Dessa vez, a festa acontece em dois dias. Hoje, Marquinhos, as Velhas Guardas da Portela e Império Serrano e Jongo da Serrinha fazem show na Central. E, sábado, depois dos shows de Nelson Sargento e Wilson Moreira, saem de lá as composições com vagões lotados de atrações rumo a Oswaldo Cruz. 

Outra novidade da 15ª edição do evento é a inclusão da Feijoada da Portela na programação. Com portões abertos e prato de feijoada a R$ 10, a quadra da escola será o ponto de partida para um desfile pelas ruas de Madureira. 

“Enquanto houver samba, a alegria continua, cantam Noca da Portela e Mauro Diniz. A cada da ano, o Trem atrai mais gente: os veteranos, os novos e os mais novos”, aponta Nelson Sargento, que previu que o ‘Samba agoniza, mas não Morre’. 

“Mudaram toda sua estrutura. Lhe impuseram outra cultura, e ninguém percebeu. Assim como a cidade e o carioca, o samba dá a volta por cima, se renova”, completa o mestre.


ROTEIRO DO SAMBA


TREM DO SAMBA 
Marquinhos de Oswaldo Cruz recebe Mauro Diniz, Serginho Procópio, Renatinho Partideiro, Jongo da Serrinha e as Velhas Guardas da Portela e Império Serrano. Hoje, às 19h, na Central do Brasil. Grátis. Sábado, a partir das 11h, Marquinhos volta à Central com Wilson Moreira, Nelson Sargento, Velhas Guardas de Portela, Império Serrano, Mangueira, Salgueiro e Vila Isabel e a Bateria do Mestre Faísca. Às 13h30, o primeiro trem sairá com Pagode do Renascença, Clube do Samba, Cacique de Ramos e Democráticos de Guadalupe. O trem das 14h, leva a Bateria do Mestre Faísca, Pagode do Sambola, Parados na Ponte e Bip Bip. O último trem parte às 14h30, com Senzala, Agenda Samba Choro, Criolice e Galeria Velha Guarda da Portela. Ingresso do trem 1kg de alimento não-perecível ou R$ 2,50.

OSWALDO CRUZ
Sábado, em Oswaldo Cruz, a festa acontece em três palcos a partir das 14h. No primeiro, ao lado da via férrea, Noca da Portela, Délcio Carvalho,Sombrinha e Pagode da Tia Doca. O segundo palco na Rua Átila da Silveira, Partideiros do Cacique, Almir Guineto, Toninho Gerais e Zé Luiz do Império. Na Praça Paulo da Portela, Ari do Cavaco, Velhas Guardas da Portela, Império Serrano, Salgueiro, Mangueira e Vila Isabel e Marquinhos de Oswaldo Cruz. 

Rodas de samba pelas ruas Frei Bento com Rua Pinto de Campos (Bloco dos Cachaças), Travessa Blandina e Rua Vicenza (Grupo da Analimar), Rua Carolina Machado (Clube do Samba), entre outras. 

Feijoada da Família Portelense. Rua Clara Nunes 81, Madureira (2489-6440). Grátis. Prato de Feijoada R$ 10. 

ESTAÇÃO LEOPOLDINA
Hoje às, 6h30, Bateria da União da Ilha. Às 7h30, abertura da exposição de fotos e fantasias. Às 12h, feijoada (R$ 6) com Alcione. Às 13h, workshop sobre samba com Nei Lopes, Sergio Cabral e Haroldo Costa. Às 20h30, Bambas de Berço. Às 21h30, show de Arlindo Cruz e de Maria Rita. R$ 16 e R$ 8 com 1 kg de alimento não-perecível.

SAMBA & OUTRAS COISAS 
As cantoras Dorina e Sanny Alves e o grupo DNA do Samba se apresentam no Teatro Sesi. Av. Graça Aranha 1, Centro (2563-4163). Hoje, às 19h. R$ 20. 18 anos. 

CENTRO CULTURAL LIGHT
O grupo Anjos da Lua faz show do CD ‘Uma Noite Noel Rosa’ no Centro Cultural Light. Av. Marechal Floriano 168, Centro (2211-4515). Hoje, às 12h30. Grátis, com distribuição de senhas uma hora antes.

QUINTAL DO BOLA
A cantora Iracema Monteiro recebe Tia Surica e Wilson Moreira na sede do Bola Preta. Rua da relação 03, Centro (2222-7006). Hoje, às 19h. R$ 10. 

SAMBA NA VEIA
Apresentações de música e dança, teatro, documentário e show da bateria da Vila Isabel no Sesc São Gonçalo. Av. Presidente Kennedy 755, (2712-3282). Sab, das 13h às 22h. Grátis. Livre.

VACA ATOLADA
O projeto Samba zÉ Samba faz roda com clássicos de Noel Rosa, Cartola e outros no Botequim Vaca Atolada. Av. Gomes Freire 533, Centro (2221-0515). Sab, às 16h. Grátis

Urinar na rua não é crime, diz juiz

Urinar na rua não é crime, diz juiz

Decisão tomada em caso de estudante abre precedentes que dificultam ‘caça aos mijões’

POR MARIA LUISA BARROS
Rio - A caça aos mijões nas operações Choque de Ordem da Prefeitura do Rio perdeu uma batalha nos tribunais. Por dois votos a um, juízes do Tribunal de Justiça (TJ) decidiram que urinar nas ruas não é crime. De acordo com sentença dada pela 2ª Turma Recursal Criminal do TJ, só podem ser considerados atos obscenos os casos em que há intenção de ofender o pudor ou os bons costumes da população. A decisão judicial encerra uma ação penal contra um universitário autuado pela polícia, no início do ano,durante desfile de bloco de Carnaval, por fazer xixi na orla, de Ipanema, Zona Sul do Rio. A sentença beneficia somente o estudante, mas abre precedentes para que outros na mesma situação também recorram à Justiça.

O juiz André Ricardo de Franciscis Ramos entendeu que, como o estudante foi pego urinando atrás de um arbusto, não praticou gesto doloso (intencional) e não teve apelo sexual. Na sentença, o juiz critica a tolerância do poder público com a prostituição em Copacabana, que na opinião dele é obscena. “Existe uma quantidade de prostitutas e travestis exibindo as partes íntimas de seus corpos em via pública, em flagrantes crimes de ato obsceno, sendo que tais condutas, infelizmente e por razões que não se conhece, têm sido diariamente toleradas pelas autoridades do Choque de Ordem”, diz.

Para o juiz, a prefeitura deveria ter providenciado, principalmente em grandes festas, banheiros públicos, ainda que pagos, mas em quantidade suficiente nos locais de grande concentração de pessoas. “Urinar nas ruas é um ato repugnante, mas é um hábito cultural que não vai mudar da noite para o dia com multas ou prisões. É preciso educar a população com campanhas, como foi feito com o cigarro e o cinto de segurança”, afirmou. Há duas semanas, o juiz André Ricardo condenou por ato obsceno um homem que mostrou o órgão sexual para um garoto em frente à residência da vítima. “Nesse caso, houve atentado ao pudor”, explicou.