sexta-feira, 31 de julho de 2009

Presidente do STF indefere liminar requerida pelo DEM contra cotas raciais da UnB

Notícias STF

Sexta-feira, 31 de Julho de 2009

Bresidente do STF indefere liminar requerida pelo DEM contra cotas raciais da UnB

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, indeferiu, nesta sexta-feira (31), pedido de liminar formulado pelo partido Democratas (DEM) na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 186, em que contesta as cotas raciais de 20% para negros, instituída pela Universidade de Brasília em seus concursos vestibulares.

Antes de decidir, o ministro Gilmar Mendes havia solicitado pareceres da Procuradoria Geral da República (PGR) e da Advocacia Geral da União (AGU). Ambas se manifestaram contra a concessão da liminar e pela constitucionalidade dos atos administrativos praticados pela UnB, que a tornaram a primeira instituição de ensino superior federal a adotar o sistema de cotas raciais.

Decisão

Em sua decisão, o presidente do STF sugere que ações afirmativas, como as cotas raciais, deveriam ser limitadas no tempo e diz acreditar que “a exclusão no acesso às universidades públicas é determinada pela condição financeira”.

Observa que “nesse ponto, parece não haver distinção entre ‘brancos’ e ‘negros’, mas entre ricos e pobres”. Com base nesse raciocínio, questiona se “a adoção do critério da renda não seria mais adequada para a democratização do acesso ao ensino superior no Brasil”, reportando-se à “Síntese de Indicadores Sociais 2006”, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) segundo a qual o “critério de pertencimento étnico-racial é altamente determinante no processo de diferenciação e exclusão social”.

Os dados do levantamento indicam, também, que a taxa de analfabetismo de negros (14,6%) e de pardos (15,6%) continua sendo, em 2005, mais que o dobro que a de brancos (7,0 %).

O ministro ressalta que “o tema não pode deixar de ser abordado desde uma reflexão mais aprofundada sobre o conceito do que chamamos de ‘raça’. Nunca é demais esclarecer que a ciência contemporânea, por meio de pesquisas genéticas, comprovou a inexistência de ‘raças’ humanas. Os estudos do genoma humano comprovam a existência de uma única espécie dividida em bilhões de indivíduos únicos”.

Gilmar Mendes admite que a questão é polêmica, mas pondera que o Plenário do STF deverá pronunciar-se, em momento oportuno, sobre o inteiro teor do pedido de medida cautelar e o cabimento da ação, bem como sobre a eventual possibilidade de seu conhecimento como Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), em razão da peculiar natureza jurídica de seu objeto.

O ministro afirma que o questionamento feito pelo Partido Democratas “é de suma importância para o fortalecimento da democracia no Brasil”. Ainda segundo ele, “as questões e dúvidas levantadas são muito sérias, estão ligadas à identidade nacional, envolvem o próprio conceito que o brasileiro tem de si mesmo e demonstram a necessidade de promovermos a justiça social”.

Entre outras indagações colocadas na ação, ele destaca as seguintes: “Até que ponto a exclusão social gera preconceito? O preconceito em razão da cor da pele está ligado ou não ao preconceito em razão da renda?”

E, também, “como tornar a universidade pública um espaço aberto a todos os brasileiros? Será a educação básica o verdadeiro instrumento apto a realizar a inclusão social que queremos: um país livre e igual, no qual as pessoas não sejam discriminadas pela cor de sua pele, pelo dinheiro em sua conta bancária, pelo seu gênero, pela sua opção sexual, pela sua idade, pela sua opção política, pela sua orientação religiosa, pela região do país onde moram etc”?

Ele pondera que, apesar da importância do tema em debate, “neste momento, não há urgência a justificar a concessão da medida liminar”.

Lembra, nesse sentido, que o sistema de cotas raciais foi adotado pela UnB desde o vestibular de 2004 e se vem renovando a cada semestre. Recorda, ainda, que a interposição da ADPF do Democratas ocorreu após a divulgação do resultado final do vestibular 2/2009, quando já encerrados os trabalhos da comissão avaliadora do sistema de cotas.

“Assim, por ora, não vislumbro qualquer razão para a medida cautelar de suspensão do registro (matrícula) dos alunos que foram aprovados no último vestibular da UnB, ou para qualquer interferência no andamento dos trabalhos na universidade”, concluiu, indeferindo o pedido de liminar, que deverá ser referendado (aprovado) pelo Plenário.

Leia a íntegra da decisão;

http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStfArquivo/anexo/ADPF186.pdf


FK/IC


http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStfArquivo/anexo/ADPF186.pdf


NOTAS SOBRE O RACISMO À BRASILEIRA

Racismo à Brasileira - Roberto da Matta

Afrobrasileiros e suas Lutas


Anais do Seminário Internacional
"MULRTICULTURALISMO E RACISMO: O PAPEL DA AÇAO AFIRMATIVA NOS
ESTADOS DEMOCRATICOS COMTEMPORANEOS"

Por Roberto Da Matta

NOTAS SOBRE O RACISMO À BRASILEIRA


Esta minha intervenção tem dois aspectos ou dimensões. De um lado, quero falar de fatos sociais concretos - alguns,aliás ,bem conhecidos do nosso racismo-, como sua manifestação implícita, disfarçada e de difícil discussão, como se, entre nós, brasileiros, falar de racismo fosse um tabu, de acordo com aquela tendência que Florestan Fernandes chamou, com propriedade,"o preconceito de ter preconceito". De outro, quero me concentrar nas inter-relações dos fatos sociais com os ideais políticos, alvo que - se bem entendo - move este encontro e tem suas dificuldade específicas, sobretudo quando se trata de um tema tão dramático quanto pungente, quando a justa vontade de erradicar o preconceito certamente embaça a discussão de suas características históricas e de sua organização sociológica ou cultural.

Para tanto,quero começar relembrando um episódio de diz respeito ao assunto .
Em 1968, quando estava em Cambridge , Massachusetts, realizando , na Universidade de Harvard, meu doutorado em antropologia social, fiquei sabendo da visita de um grupo de estudantes brasileiros. Eram lideres estudantis, convidados pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos, que realizavam um programa de visitas a centros culturais norte-americanos e , em Harvard, participavam de seminários e debates.

Carente de noticias do país e de contato com compatriotas - aquela época, é bom lembrar, não havia e-mail,nem fax,nem sedex, os estudantes não podiam viajar tanto quanto hoje - , fui ao local da reunião.

Lá, em um vasto salão harvardiano , dois negros americanos, se não me engano, ambos políticos locais e ligados ao chamado Movimento Negro que estava surgindo, disseram dissertavam sobre suas experiências aos jovens lideres estudantis brasileiros. Lembro-me bem de que o objetivo dos políticos americanos era compartilhar, a partir da grande experiência liberal americana1 ,as conquistas dos negros em relação ao establishment branco, mudando legislações e provocando, por meio de um ativismo pacifico, democrático e consistente, a integração política e judiciária dos Estados Unidos como nação e, no limite da esperança , como sociedade.

Ao término do discurso dos americanos, os estudantes brasileiros iniciaram uma série de perguntas-comentários provocadoras e um tanto impertinentes. Diziam, por exemplo, que as mudanças políticas mencionadas não eram efetivamente transformações de estrutura, que continuava fundada no mercado. Alegavam que a modificação aparente do quadro dos direitos das minorias não mudava o cerne do problema : a estrutura do capitalismo fundada na exploração do trabalho, continuava em vigor. Insinuavam, como era comum naquela década, que, para mudar as relações raciais, seria necessário primeiro modificar todo o "sistema"por meio de uma revolução .

Depois de cerca de trinta minutos de impasse ideológico, um dos palestrantes negros resolveu endurecer e disse mais ou menos o seguinte, olhando durante sua platéia de brasileiros:

Curioso que vocês cobrem tanto do nosso sistema. O fato é que estamos trabalhando com o que podemos para mudar as relações raciais por aqui. Vocês, que se dizem uma democracia racial, são muito piores, em termos práticos. Pois vejam só: no meio de mais ou menos oitenta estudantes brasileiros, eu vejo apenas sete ou oito negros. A grande maioria é branca. Onde está a tal "democracia racial" de vocês ?.Após a reunião, fui me encontrar com o grupo e logo descobri a perturbação dos brasileiros diante do seguinte problema: quem era o negro que os americanos haviam descoberto entre eles? Pois, como me disse um dos estudantes, com exceção de uma ou duas pessoas, não havia preto "entre eles"...
Essa historia tem o mérito de revelar o coração do problema, pois situa com dramaticidade um fato social básico: como as sociedades classificam suas eventuais variedades étnicas .

Pois, se falamos de relações raciais de uma perspectiva sociológica, é preciso distinguir de saída a miscigenação como fato empírico, isto é, como o resultado biológico do encontro sexual de brancos, negros e índios - para ficar na trilogia clássica da fábula racial brasileira -, do modo pelo qual cada sociedade trabalha esse resultado, reconhecido-o ou não como em fato social concreto. Como não há sistema valor, moralidade, mitologia ou sistema de classificação que seja "natural" ou mais próximo de uma natureza humana, pois todos são arbitrários, existe uma variedade intrigante nos modos de lidar com os mestiços.O que chama a atenção quando se compara a existência classificatória americana com a brasileira, é o fato de que, embora existam "mulatos" ou "mestiços", tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, na sociedade brasileira esses mestiços tem um reconhecimento cultural e ideológico explicito, quanto que, no caso americano, eles se submergem como "brancos" ou como "negros ". O resultado é que o sistema americano persegue a distinção e a compartimentalização dos tipos étnicos em grupos autocontidos,contrastantes, autônomos e socialmente coerentes, isto é, sem mistura. Lá o sistema tem repulsa pela ambigüidade, pelo mais ou menos e pelo meio-termo. Assim, ou se é "branco" ou se é "negro", "hispânico" , "judeu","italiano" ou "irlandês" etc. Já no Brasil, o sistema de classificação privilegia o meio-termo e a ambigüidade como valor, tendendo, em princípio, a funcionar com base na hierarquia e no gradualismo.

Dadas essas "escolhas" histórico-sociais, há exclusão , no caso dos Estados Unidos, exclusão que se exprime no princípio do "diferentes, mais iguais"; enquanto que , no Brasil, o sistema inclui hierarquiza de modo complementar, de acordo com o princípio do desigual ,mais justo". Com isso, o sistema brasileiro estabelece que, entre brancos e negros, há uma gradação complexa e mais: que todas as etnias de fato se complementam para a formação do "povo brasileiro", pois o que falta em uma, existe de sobra na outra, conforme tentei revelar alhures, em um ensaio no qual tento elucidar a nossa "fabula de três raças".2

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1.Neste contexto, vale acentuar que considero importante a distinção entre nação - ou Estado-Nacional - e sociedade como duas distintas e até mesmo contraditórias de coletividade. De modo breve, a nação é uma coletividade fundada na idéia de soberania, de territorialidade e de leis explícitas. Sua unidade especial básica é o indivíduo - o cidadão -, que nela é dotado de autonomia, liberdade, igualdade política e jurídica e responsabilidade. Já a sociedade dispensa o território, tem leis implícitas - geralmente conceituadas como mandamentos, tabus, pecados ou normas normais indiscutíveis e dadas pelos deuses e heróis civilizadores - e sua unidade fundamental é a família, o clã, a aldeia ou um elo social. Uma sociedade pode estar em guerra com sua nação, como parece fazer prova, hoje, o caso de Uganda e Burundi. Normalmente, nação e sociedade estão em conflito, pois os ideais nacionais nem sempre são realizados pela sociedade nas suas práticas. Nesse sentido, o caso do Brasil é interessante, porque fomos uma nação que adotou princípios igualitários, mas tínhamos uma sociedade hierarquizada, constituída que era por nobres, cidadão livres e escravos. Para maiores considerações sobre esse ponto, veja -se Da Matta, Conto de mentirosos: Sete ensaios de antropologia brasileira, Rio de Janeiro, Rocco, 1993.

2.Cf . Roberto Da Matta, Relativizando: Uma introdução à antropologia social, Rio de Janeiro,Rocco.

Um dos mais lúcidos estudiosos de sistemas raciais, o sociólogo Oracy Nogueira, fala de um contraste entre um "preconceito de marca", típico do Brasil, e de um "preconceito de origem", vigente nos Estados Unidos. Outros, como o historiador social norte-americano Carl Degler , elaborara a distinção explicitando historicamente o "mulato" como uma válvula de escape; ou, em termos de minha interpretação, afirmando que, no caso brasileiro, o mulato era um lugar social reconhecido e marcado e não algo vazio de sentido como acontece nos Estados Unidos.

O problema básico porém - problema sem o qual a questão racial não pode ser entendida --, jaz no estilo cultural por meio do qual as duas sociedades elaboram, constroem e lidam com as suas diferenças. Desse modo não se nega a presença de "mestiços", nem nos Estados Unidos, nem na África do Sul. Tampouco se nega a presença de iniqüidade no caso brasileiro, que foi e tem sido igualmente injusto e violento para com os "diferentes ", sobre tudo os negros. Mas se salienta que a mestiçagem é percebida de modo diverso nessas sociedades. E mais: que compreender o modo pelo qual cada sistema ordena suas percepções sociais é um fato social fundamental para construção de medidas orientadas para a implementação de mais oportunidade e mais igualdade para todas as minorias.

No caso do Brasil, a idéia de hierarquia tem duas características:

1. Ela atua por meio de uma lógica complementar que, embora limite a ascensão dos "diferentes", não os dispensa como tal. Ou seja : a complementaridade se exprime em uma ideologia segundo a qual negros, brancos e índios formam um triângulo racial e se complementam. Assim, não há Brasil sem negros índios ou brancos. Quer dizer, se o sistema admite que o branco é o elemento superior, essa superioridade não é simples nem linear, como no caso americano. Pois, no caso brasileiro, admite-se também que o branco não é superior em tudo. Na ideologia racial brasileira, brancos, negros e índios são desiguais, mais complementares.

Curioso acentuar que a fábula exclua outras etnias, como se os libaneses, os japoneses, os italianos, entre outros, que, do ponto de vista de uma "historia empírica"do Brasil, também contribuíram para a formação da nossa sociedade, não existissem socialmente.
Com isso, o negro complementa o branco e vice- versa, havendo entre eles um elo ideologicamente reconhecido: uma relação fundada no controle e na exploração,mas também na ideologia compensatória de que o negro possui qualidades ausentes dos brancos e no fato de que um é necessário para o outro. Não é por acaso que a grande região popular brasileira, a Umbanda, integre no seu panteão como figuras poderosas, personagens como os Pretos Velhos, os Zé Pelintras e os caboclos, respectivamente negros e índios.

2. Esse estilo de relacionamento racial fundado na inclusão promove o reconhecimento da graduação, o que origina um cálculo complexo da determinação étnica do Brasil. Provavelmente pelos fatos de que a experiência com o escravo foi universal, permeando todos os grupos sociais; que os negros formavam uma quase maioria da população, gerando uma inevitável consciência de que todos se ligavam pela cor da pele e de que saíamos gradualmente do regime de trabalho escravo, transformando o escravo em cliente e em sub-cidadão, o racismo à brasileira tende a se manifestar de modo implícito, dando ou tirando negritude ou indianidade ou estrangeirice de qual quer pessoa.

Em uma palavra, tara-se, como já indicativa Oracy Nogueira, de um sistema de preconceito no qual o contexto é determinante. Assim, se fulano deixa de atuar de acordo com esse código implícito, ele poderá ser "enegrecido" ou "acaboclado". Desse modo, um pessoa pode ser alvo de muitas classificações raciais, que gera uma notável insegurança classificatória, insegurança que, ao lado da importância da casa como entidade social básica, engendrou uma enorme intimidade entre grupos etnicamente diversos.

Tudo isso, provavelmente, inibiu a segregação espacial dos grupos sociais por meio do critério racial ou da origem nacional, como é o caso dos Estados Unidos. Houve também a inibição da implementação da ideologia racial no plano legal. E, ainda, a criação de grupo de militância anti-negros, anti-judeus, anti-italianos, anti-hispânicos, etc. - grupos que se fundaram no ódio racial implementado como um estilo freqüente de lidar com as diferenças, como é o caso da Ku-Klux-Klan, no Estados Unidos.

Assim, embora exista preconceito no Brasil, não existe entre nós um sistema de segregação ou de separação racial implementada e legitimado por leis escritas. A demais, o sistema, coerentemente, gerou uma ideologia de mistura e ambigüidade - na figura da mulata e do mulato, por exemplo, e nas regiões populares, que se constituem em um elemento integrador de todo sistema, valorizando mais a confissão humana - sofrimento, culpa, pecado, caridade, amor, etc. - como explicadores da situação social de cada um mais do que a própria raça, como ocorre nos Estados Unidos.

A mim, parece-me complicado equacionar os dois sistemas, ignorando suas diferenças básicas: o fato de que, nos Estados Unidos, há uma precisão classificatória que é coerente com a orientação geral do sistema; e que, no Brasil, há o reconhecimento social e simbólico do intermediário, que gera uma alta indeterminação étnica. Vale acrescentar, ademais, que cada um desses sistemas tem suas vantagens e desvantagens, e cada qual deve encontrar " saídas" diferenciadas para o estabelecimento de uma maior igualdade de oportunidade para seus membros. No caso americano, deve estar precavido contra o sectarismo; no brasileiro, contra uma acomodação que, propositadamente, troca reconhecimento da mestiçagem como ausência de preconceito e, no limite da segregação de oportunidades.

Será, pois, a partir desses constatações que se deve discutir o sistema racial brasileiro. Um sistema, repito, que tanto se funda na paradoxal dificuldade de classificar negros e brancos, quando se estrutura no fato de que cada categoria racial conhece o seu lugar em uma hierarquia.Legislar positivamente para tal sistema demanda apanhar a sua inteligência sociológica.
Seria tudo isso um empecilho à ação afirmativa, à democracia ou à igualdade de oportunidades ? Claro que não! Mas seria preciso levar em conta o seguinte :

1. Que ação afirmativa seja concebida a partir do sistema e considere a origem e o fato de que o nosso sistema é gradativo e, mais que isso,contextual e relativamente eletivo.Pessoas ficam "brancas" ou "negras" de acordo com suas atitudes, sucesso e, sobretudo, relacionamentos.

2. Que se deve ter em conta as dificuldades do programa de "ação afirmativa" dentro da realidade americana como, aliais, alguns dos participantes do seminário chamaram a atenção. Do mesmo modo que a "mulataria" não acabou com o nosso preconceito, a "ação afirmativa" também não liquidou o lado negativo das relações raciais nos Estados Unidos. Ao contrário, ela a tem reforçado, embora tenha provocado maior participação de negros em certas instituições e ambientes daquela sociedade.

3. Finalmente, cabe considerar se mudar a lei seria realmente o ponto mais importante, sobretudo em um país onde as leis mudam com mais facilidade que práticas sociais.
Nesse sentido, caberia perguntar se, ao lado dessa discussão jurídica,não se deveria aprofundar o seguinte:

1 .Realizar uma campanha nacional, utilizando sobretudo a televisão, na qual os brasileiros se vissem confrontados com os seus mecanismos implícitos de exclusão racial.Nesse tipo de campanha, valeria a pena valorizar figuras de negros historicamente importantes, ressaltando o lado étnico e, também, denunciando as mil formas de hipocrisia pelas quais a discriminação se exerce no Brasil.

2. Ressaltar o fato de que a idéia de que temos uma "democracia racial" é algo respeitável. Quanto mais ou seja, porque, apesar do nosso tenebroso passando escravocrata, saímos do escravismo com um sistema de preconceito, é certo, mas sem as famosas " Leis Jim Crow " americanas, que implementavam e, pior que isso, legitimavam o racismo, por meio da segregação no campo legal.

Não se trata - convém enfatizar para evitar mal entendidos - de utilizar a expressão no seu sentido mistificador, mas de resgatá-la como um patrimônio que seja capaz de fazer com que o Brasil - nação, honrando com seu comprometimento igualitário, possa resgatar a sua imensa divida com esses negros que tiveram o mais passado fardo na construção do Brasil - sociedade.



http://www.geledes.org.br/afrobrasileiros-e-suas-lutas/racismo-a-brasileira-roberto-da-matta


Danilo Gentili será investigado por possível crime de racismo

Danilo Gentili será investigado por possível crime de racismo



Danilo Gentili será investigado pelo Ministério Público por piada no Twitter

O humorista Danilo Gentili, do programa "CQC" da TV Band, será investigado pelo Ministério Público de São Paulo por possível crime de racismo. De acordo com a coluna Zapping, assinada por Alberto Pereira Jr., ele publicou uma piada em seu perfil do Twitter na noite de sábado, 25, que gerou repercussão. Gentilli escreveu: "Agora no TeleCine KingKong, um macaco que depois q vai para a cidade e fica famoso pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"
Minutos depois, ele voltou a escrever no perfil tentando justificar a brincadeira: "Alguém pode me dar uma explicação razoável porque posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa mas nunca um negro de macaco?". Não satisfeito, Gentili, continuou se justificando: "Reparem: na piada do KingKong nao disse a cor do jogador. Disse que loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeca de vocês que tem preconceito, hein".

No domingo, Gentili voltou ao Twitter para postar uma foto e comentou: "Obrigado, pessoal. Vocês conseguiram me prender igual a um macaco por denúncias de racismo."

Ainda indignado com tudo o que está acontecendo, Gentili preferiu usar um espaço maior, além dos 140 caracteres oferecidos pelo Twitter, para continuar o assunto. Em seu blog, o repórter do CQC falou sobre a diferença de raças para explicar o seu ponto de vista sobre o assunto.

"Se você me disser que é da raça negra preciso dizer que você tambem é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra. Pois se todas raças são iguais então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?", diz o humorista em seu blog. Leia texto na íntegra.

Segundo a coluna, Gentili afirmou que pediria perdão a qualquer pessoa que se ofendeu sobre qualquer assunto que ele já tenha falado, mas declarou que não apagará nenhuma mensagem no seu Twitter, já que foi o que realmente ele disse.


http://negrosnegrascristaos.ning.com/forum/topics/danilo-gentili-sera

Cabelo afro em alta

Cabelo afro em alta

Agência Estado

São Paulo, 30 (AE) - Nos anos 70, o black power carapinha e redondo, adotado pela ativista negra Angela Davis, era componente forte de sua personalidade e tinha uma conotação mais política do que estética. Da militância negra para o pop, o cabelo armado coroou os irmãos do grupo musical Jackson Five e, hoje, modelos, atrizes e cantoras resgatam o look, como a atriz Halle Berry, a cantora Macy Gray (atualmente com o cabelo liso e curtinho) e a baixista acústica Esperanza Sparling. Por aqui, só para citar alguns exemplos, as cantoras Elza Soares e Negra Li lançam moda e desfilam cheias de charme com seus Blacks.

Com um corpinho de dar inveja, pernas à la Tina Turner (o truque é uma meia finíssima de seda cor da pele) e cabelão black vermelho arrepiado, a cantora Elza Soares lança moda entre as mais jovens. O figurino é moderno, assim como o cabelo e a maquiagem. Ela se cuida muito, mas lembra que o DNA também ajuda.

Falando ao telefone com a reportagem no começo da tarde de um sábado, conta que, na véspera, tinha participado de um evento cultural no Rio. O segredo de tanta vitalidade? "Além da alimentação, tenho um personal há anos, desde a época em que malhar não estava em evidência como agora." Quanto ao black power, a coautoria do look é do produtor Gringo Cardia:

- Por ocasião do lançamento do CD "Do Cóccix até o Pescoço", em 2002, estava em Londres quando vi numa vitrine uma calça boca-de-sino e uma peruca black power, visual igual ao que usava em 70. Gringo, que também estava lá, disse que eu devia retomar o cabelo, e foi assim que voltei ao black bem selvagem.

Para dar volume, usa megahair, tintura vermelha e, quando acha que o cabelo está danificado pela química, raspa tudo para que volte a crescer com força. Assume o consumismo quando o assunto é beleza: "Não posso ver um creme, cara! Quando vou para Londres, Itália, Paris, encontro muitos produtos para pele e cabelos negros."

Basta dar um giro pelo Google para conferir os looks da cantora Negra Li. Já usou tranças, depois, em 2007, desfilou irreconhecível com cabelos longos e ondulados - como as cantoras norte-americanas do hip-hop - e nos dias atuais investe no black power. "Gosto de variar. Quando alisei e tingi de mel, curti muito. O liso é o desejo de muitas mulheres, negras ou brancas."

Mas engana-se quem pensa que o black power, a cargo do profissional Wagner Moraes, não dá trabalho: "Além do corte, que deve ser feito de maneira certa, é preciso alguns cuidados. Como meus cabelos são muito finos e os fios se quebram com facilidade, lavo duas vezes por semana. Uso um creme sem enxágue e passo um gel, que o deixa jeitoso por até dois dias." Para enfeitar e variar o penteado, a cantora usa e abusa dos grampos. Mudar de cor, por enquanto, nem pensar. Grávida, a cantora quer dar um tempo da química contida nas colorações.

Com as madeixas literalmente incandescentes, Deborah Rissato, que atua na área de atendimento ao cliente, chama atenção por onde passa. Estilosa, a ruiva de cabelo encaracolado e volumoso conta que já chegou a usá-lo comprido, até a cintura. Na contramão dos fios escorridos, não pensa em mudanças: "Acho que o liso não cai bem para o meu formato de rosto, que é fino." O único "drama" é o corte, que, segundo ela, requer habilidade, pois não pode ser geométrico, mas sim acompanhando o movimento dos fios.

Deborah lava a cabeça todos os dias com xampu sem sal, passa condicionador, musse para ativar os cachos e usa um difusor na secagem, que ajuda a modelar. Vaidosa assumida, não sai de casa sem maquiagem. Blush, delineador e sombras, que vão do verde ao prata, não faltam em sua nécessaire.

Conciliar vida pessoal e a imagem profissional é um desafio para quem trabalha na frente das câmeras, como lembra Adriana Couto, uma das apresentadoras do Jornal da Cultura, da TV Cultura, em São Paulo. Com olhos grandes, sorriso largo e um black bem comportado, em tons de caramelo claro, conta que já experimentou vários looks. Avessa a patrulhamentos, lembra que o cabelo étnico alisado - por vezes alvo de críticas - nada mais é do que uma conquista da mulher negra: "Quero ter a liberdade de escolher o liso ou o crespo!", comenta, apontando o leque de possibilidades que a estética moderna oferece nos salões e prateleiras.

Adriana já cortou o cabelo bem curtinho, no estilo da cantora Grace Jones. Depois usou tranças, o que exigia manutenção de dois em dois meses. "Hoje faço permanente afro com a especialista Solange Dias. Como meus cabelos são bem crespos, o tratamento dá movimento aos cachos." Consumista assumida, mescla produtos nacionais e importados, como xampus, cremes, ativador de cachos e musse.

A designer de joias e cantora carioca Yara Figueiredo conta que, desde menina, dormia de touca para alisar os cachos: "Quando chovia, encrespava na frente, era um desastre." Se isso causava algum tipo de complexo? "Imagine só: não tinha peito, não tinha bunda, usava óculos e o cabelo não era liso. Até que uma amiga europeia, que assumia o crespo numa boa, virou uma referência na minha vida. Devia colocar um busto dessa mulher lá em casa! Depois que percebi que era escrava da escova e de uma mentira, me libertei."

Hoje, adepta do extravolume, economiza tempo e dinheiro: "Lavo o cabelo com um xampu de R$ 6,00, seco com difusor, passo um leave in e estou pronta." Segundo Yara, o uso de química e outros procedimentos para alisar o cabelo acabam danificando os fios e, o pior, padroniza as mulheres: "Parece um exército de alisadas. Ficou uma coisa muito suburbana, dá para ver que não é natural", alfineta.

Para mudar o visual, costuma usar flores naturais ou de crochê, e joias delicadas de design. Vaidosa, adora se produzir: "Fiz uma apresentação de 45 dias no Líbano e não repeti uma só vez os cabelos e a maquiagem. Gosto de me montar, acho que é uma celebração à vida. Sou o travesti que deu certo", diz, aos risos.

Além do estilo, o que leva muitas mulheres a assumirem os cachos é a praticidade, como fala a professora de inglês Alessandra dos Santos Francisco, que, dos 10 anos aos atuais 34, passou química nos cabelos para tê-los lisos. "De três em três meses, religiosamente, tinha de ir ao salão para fazer um tratamento conhecido como ´desondulação. Como o cabelo era comprido, tingido e com mechas, gastava muito com produtos específicos. Optei por cortar, e o processo todo, do liso ao natural, durou cinco meses", conta.

Hoje, feliz da vida, acorda, toma banho e, no máximo, passa um silicone nos fios, ajeitando-os com as mãos. "Antes levava 45 minutos só para arrumar o cabelo, hoje, gasto uns cinco." Para mudar o look, 30abusa das flores e faixas.


http://www.abril.com.br/noticias/comportamento/cabelo-afro-alta-475487.shtml

30/07/2009 11.14.09



ENCONTRO DE RELIGIOSOS NEGROS SOBRE QUILOMBOLAS






Registro, 30 jul (RV) - Realiza-se em Registro (SP), a 21ª Assembleia de Padres, Bispos e Diáconos Negros.

O encontro é promovido pelo Instituto Mariama (articulação de bispos, padres e diáconos negros) e abertura do mesmo foi realizada, na última terça-feira, na Catedral São Francisco Xavier com a celebração eucarística presidida pelo bispo de Bagé, Dom Gílio Felício.

A procuradora da Fundação Palmares, doutora Dora Lucia fez uma palestra sobre o tema "Negros e legalidade na historia do Brasil". A doutora lembrou aos participantes que as leis brasileiras elaboradas desde o tempo do Brasil Império foram prejudiciais à população negra.

"A lei que proibia o tráfico negreiro, a lei sexagenária e do ventre livre, apesar do aparente aspecto benéfico para os negros, traziam em seus artigos algumas condições que se revelaram prejudiciais para a população negra. Normalmente temos uma leitura superficial destas leis e não nos damos conta de seu aspecto pernicioso à população negra da época" - afirmou Dora.

Sobre a população quilombola e as questões legais, a procuradora afirmou que passado um século de história, ainda é desconhecida a existência de territórios Quilombolas.

Segundo os participantes da Assembleia, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Fundação Palmares tem se empenhado no reconhecimento, demarcação e titulação das terras quilombolas. Foi realizado um debate e troca de informações entre os participantes sobre como apoiar a luta das populações quilombolas.

Além disso, outro debate foi realizado com os representantes do Centro de Apoio a Populações Marginalizadas (CEAP), do Rio de Janeiro, sobre o combate a intolerância religiosa. Os padres e bispos foram convidados a participar da segunda caminhada em defesa da liberdade religiosa marcada para o dia 20 de setembro próximo, no Rio de Janeiro.

Está previsto para hoje uma visita dos padres e bispos ao Quilombo de Ivaporunduva, na cidade de Registro. Nesta visita os participantes ouvirão a população e celebrarão a eucaristia com a comunidade local.

O encontro se concluirá amanhã com a eleição e posse da nova diretoria do Instituto Mariama. (MJ)

http://www.oecumene.radiovaticana.org/bra/Articolo.asp?c=306165