sexta-feira, 19 de março de 2010

Site reúne o maior acervo da Cultura Negra Brasileira

18.03.2010 às 11:08:00 - 70 clicks
Site reúne o maior acervo da Cultura Negra Brasileira

Por Redação
reprodução

Rio de Janeiro (O Repórter) - O brasileiro Filó Filho e a inglesa Vik Birkbeck há três décadas andam com uma câmera nas mãos, captando imagens de manifestações, depoimentos e qualquer outro evento ligado à cultura negra brasileira.
Com olhares diferentes sobre um mesmo foco e com o objetivo de tornar o acervo de fácil acesso ao público, os dois digitalizaram todo o material e criaram o site www.cultne.com.br. São cerca de mil horas de imagens, gravadas originalmente em VHS e disponíveis para visualização e download.
No site é possível encontrar cenas raras, como as visitas de Nelson Mandela e de Desmond Tutu ao Rio de Janeiro, depoimentos de personalidades como Pelé, Abdias do Nascimento, Gilberto Gil, Lélia Gonzales, Paulo Moura, Ruth de Souza, Zezé Motta e Grande Otelo, além da campanha feita para o centenário da Abolição em 1988.
Há também registros dos bastidores da gravação do clipe de Michael Jackson, com o Olodum, na Bahia em 1996, registrados por Vik; e do show de James Brown no Rio de Janeiro, em 1988, exibido no programa Radial Filó, apresentado por Filó Filho, na extinta TV Rio, na década de 80.
Na noite de lançamento, haverá exibição dos videos: A Marcha e a Farsa / Making of Centenário da Abolição / Ed Motta na Renascença Clube: Festa Cor da Pele / As Divas Negras no Cinema Brasileiro;
Após a sessão, Antônio Pitanga, Antônio Pilar, Carmem Luz, Ras Adauto, Yedo Ferreira e Angélica Basthi conversam com o público.
Nos dias 24, 25 e 26, o ciclo de palestras e debates continua no Cinema Nosso (Rua do Resende, 80 – Lapa), com entrada gratuita. Entre as presenças confirmadas estão, além de Vik (Enúgbarijo Comunicações, que significa “boca coletiva”, em iorubá) e Filó (Cor da Pele Produções), Antônio Pitanga, Zulu Araújo (presidente da Fundação Palmares), Carmen Luz (diretora do Centro Coreográfico) e Ras Adauto (cineasta brasileiro radicado em Berlim, que criou a Enúgbarijo Comunicações com Vik).
No dia 27, o evento será encerrado com a festa Usafricarib, no Estrela da Lapa (Avenida Mem de Sá 69 – Lapa), com ingressos à venda no local. A programação na íntegra está disponível no site.
O projeto é uma realização do Celub (Centro de Cultura Urbana) e tem o patrocínio da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro.

Carta aberta dos professores do IUPERJ

De: Irineu Belo
Para: Terceiro Setor Grupo <3setor@yahoogrupos. com.br>
Enviadas: Quinta-feira, 18 de Março de 2010 23:06:55
Assunto: [ 3setor ] Fwd: Carta aberta dos professores do IUPERJ


De: Marcelo Jasmin
Data: 16 de março de 2010 16:26
Assunto: Carta aberta dos professores do IUPERJ

Prezados colegas da comunidade científica e amigos do IUPERJ

Pedimos a sua atenção e leitura para a carta aberta dos professores (em anexo) sobre a crise que ameaça a existência institucional do IUPERJ que acaba de completar 40 anos.

Enviamos também o artigo do Prof. Luiz Werneck Vianna, já veiculado pela imprensa, sobre o mesmo assunto.

Agradecemos desde já,

Atenciosamente,

Diana Lima
Marcelo Jasmin
Ricardo Benzaquen

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Rio de Janeiro, 15 de março de 2010.

Prezados colegas e amigos do IUPERJ,

Voltamos, nós do IUPERJ, a recorrer aos colegas das Ciências Sociais e da Academia em geral. Dirão alguns decerto que se trata da continuada crise que os ocupou em nosso apoio, em momento crítico há seis anos atrás. Sim, é a mesma, só que agravada ao seu mais extremo limite, pois agora o que está em jogo é o encerramento das atividades da instituição.

Nestes últimos anos, a situação da Universidade Candido Mendes, mantenedora do IUPERJ, só fez deteriorar-se. Nos últimos dois anos, não recebemos 9 salários dos 26 devidos e vários direitos trabalhistas não são honrados desde 1999. Em 2010 não temos qualquer perspectiva de que receberemos salários ao longo de todo o ano letivo. Ora, como não temos recursos próprios, que fazer para evitar um desfecho que nos é catastrófico?

Estamos negociando com o Governo Federal, através do Ministério da Ciência e Tecnologia, a formação de uma Organização Social, entidade que propiciaria aporte de recursos públicos, inclusive orçamentários, e privados para o Instituto: trata-se da única alternativa capaz de garantir a sobrevivência institucional. Ocorre, porém, que não são poucos os obstáculos nesse caminho, até mesmo uma argüição de inconstitucionalida de das OS no Supremo Tribunal Federal. Se superados todos os obstáculos, vale lembrar, só alcançaremos resultados tangíveis em 2012, não obstante o apoio manifestado por diversas agências governamentais.
Incerto e longo, o caminho não será percorrido sem o apoio e a solidariedade da comunidade científica, os quais, diga-se a bem da verdade, jamais nos foram negados. O alerta aos poderes públicos só se efetivará de fato com crescentes manifestações de preocupação com o destino do IUPERJ.

O IUPERJ é sua história, o empenho de seus estudantes, funcionários e professores nestes últimos 40 anos; seus programas de Ciência Política e Sociologia, respectivamente com graus 6 e 7 na avaliação da CAPES e ambos totalmente gratuitos; as 281 teses de doutorado e 471 dissertações de mestrado aqui defendidas; o fato de que 41% de seus doutores egressos ensinam e pesquisam em universidades públicas e 23% o fazem em instituições particulares; os 40 doutores do exterior aqui diplomados; os 11 grupos de pesquisa ora cadastrados no CNPq. É por tudo isso que acreditamos numa solução institucional e decidimos iniciar o ano letivo mesmo sem salários.

Queremos continuar a fazer o que sempre fizemos. A instituição é maior que cada um de nós. Tudo faremos para tentar salvá-la, mas nem tudo está ao nosso alcance. Por isso, pedimos, e é este o verbo, o apoio dos colegas.

Adalberto Moreira Cardoso Argelina Maria Cheibub Figueiredo
Carlos Antonio Costa Ribeiro Cesar Augusto C. Guimarães
Diana Nogueira de Oliveira Lima Fabiano Guilherme M. Santos
Frédéric Vandenberghe Jairo Marconi Nicolau
João Feres Júnior José Maurício Domingues
Luiz Antonio Machado Silva Luiz Jorge Werneck Vianna
Marcelo Gantus Jasmin Marcus Faria Figueiredo
Maria Regina S. de Lima Nelson do Valle Silva
Renato de Andrade Lessa Renato Raul Boschi
Ricardo Benzaquen de Araújo Thamy Pogrebinschi

O IUPERJ vale uma missa?
A moderna pós-graduação em Ciências Sociais no Rio de Janeiro nasceu no Museu Nacional e no IUPERJ em fins dos anos 1960. Veio à luz em momento pouco propício â o recrudescimento do regime político autoritário, que culminou com a edição do AI-5, em 1969. Na mesma época, em São Paulo, fundava-se o CEBRAP, centro de pesquisas criado por professores da USP compulsoriamente aposentados, que assim repetiam, pouco tempo depois, o triste destino dos professores da Faculdade Nacional de Filosofia da UFRJ, da Fundação Osvaldo Cruz e do ISEB.
Banidos de seus lugares tradicionais, os cientistas sociais reinventam seus papéis e se tornam criadores de instituições, tal como o CEBRAP e o IUPERJ. Insulados em suas novas agências, sua reação ao regime autoritário se vai realizar a partir de uma intervenção critica, em que o tema de fundo será o da inquirição das raízes históricas do autoritarismo brasileiro e o do diagnóstico das desigualdades sociais reinantes. Paradoxalmente, esse insulamento dos intelectuais, em meio a um clima de repressão das liberdades civis e públicas, estimulou sua reaparição na esfera pública e no processo de formação da opinião. Ao abrigo das disputas políticas diretas, desvinculados da vida partidária, exercendo a vocação do seu ofício e se expressando como intérprete do interesse geral e não como representante do particularismo de indivíduos e grupos, acabam por conquistar uma espécie de mandato implícito, com respaldo na ciência, para
falarem em nome da sociedade.

Daí uma importante mutação quanto aos intelectuais do período pré-64: se, antes, sob a democracia, seus vínculos com as instâncias da sociedade civil, como partidos, sindicatos e a vida associativa, eram, em geral, estabelecidos individualmente, no contexto autoritário se instituem como corpus, apresentando- se com a linguagem da ciência. A constituição dessa nova identidade conhece, então, uma extraordinária difusão, de que a ANPOCS (Associação Nacional da Pós-graduação em Ciências Sociais) e outras instituições são exemplares, congregando, anualmente, cada vez um número maior de filiados.
Nesses corpus, sob controvérsias, sedimentam-se opiniões, diagnósticos que são selecionados pela mídia ou partidos, e eventualmente, dependendo da oportunidade e/ou relevância, canalizados para a esfera pública. Foi assim que, sob o regime ditatorial, a pós-graduação brasileira e os centros de pesquisa isolados, sempre no registro do trabalho científico especializado, estabeleceram suas redes de comunicação com o mundo exterior, mantendo preservada a sua autonomia quanto aos demais atores sociais, principalmente os partidos políticos. Essa não foi, é claro, uma estratégia consciente, embora muito bem
sucedida para os fins a que se dispunha, qual seja a de instituir uma agenda razoável para o assentamento da questão democrática e da social.

Assim, pode-se sustentar, sem triunfalismos patéticos, que a história da resistência ao autoritarismo e a da conquista da democracia não pode ser contada desconhecendo o papel desempenhado por essas novas agências de intelectuais, inclusive â e, em certos momentos, principalmente â, pelas instituições de pós-graduação, como é o caso do IUPERJ, que, entre outras características, estimulou a formação e abrigou as primeiras secretarias da ANPOCS.

O IUPERJ começa sua história com foco no tema das instituições políticas democráticas, rejeitando as concepções que as entendiam como formas vazias de conteúdo. Sua ênfase, desde sempre, foi a de que âo substantivoâ deveria encontrar canais institucionais livres, a fim de se expressar na esfera pública como demandas a serem realizadas. Com essa orientação, abriu sua agenda para as questões sociais, dedicando-se à pesquisa e à formação especializada dos seus alunos em temas estratégicos à nossa sociedade, tais como sindicatos, violência, profissões, pobreza e marginalidade, raça e gênero. Seus pesquisadores, nessas duas frentes de trabalho, produziram dezenas de trabalhos, publicados pelas principais editoras do país, e participaram da orientação de centenas de pesquisas, para fins de teses de doutorado ou de dissertações de mestrado â um repertório respeitado nacional e internacionalmente. Ademais, conservando seu
caráter de instituto orientado para as diferentes linhas de especialização que se afirmam nas Ciências Sociais, o IUPERJ mantém e aprimora a tradição institucional de privilegiar a cultura humanista e o pensamento clássico brasileiro em Ciências Sociais, patente na sua lista de publicações e nas teses defendidas.

Essa é uma história de êxitos e a opinião pública reconhece e valoriza essa instituição. Mas, passados 40 anos, ela se encontra sob o risco iminente de acabar por absoluta falta de recursos para a preservação dos seus quadros de professores e funcionários. O fim tem data marcada, que está próxima. A ironia dessa história, de uma instituição que se apresentou para a sociedade como capaz de ajudá-la a resolver seus problemas, é que, agora, o problema é ela própria.

Luiz Werneck Vianna
Professor-pesquisad or do IUPERJ,
Ex-presidente da ANPOCS

PLATAFORMA POLITICA AFRO - BRASILEIRA COM A PARTICIPAÇÃO DE CANDIDATOS NEGROS NAS ELEIÇÕES DE 2010;

Neste dia 23 de Março ás 15 horas no auditório do prédio anexo da Assembléia Legislativa dos Deputados do Estado de São Paulo, acontece a reunião que esta sendo organizada pela Associação Nacional do Turismo Afro Brasileiro - ANTAB em parceria com o Coletivo Gestor de Négócios e Turismo Afro Brasileiro - CGTNAB para discutir as seguintes pautas:-

1-) PLATAFORMA POLITICA AFRO - BRASILEIRA COM A PARTICIPAÇÃO DE CANDIDATOS NEGROS NAS ELEIÇÕES DE 2010;

2-) GARANTIAS PARA NEGROS E AFRO DESCENDENTES NAS FEIRAS, EVENTOS E CAMPANHAS PÚBLICITÁRIAS;

3-) CRONOGRAMA ESTADUAL DO SEMINÁRIO DE TURISMO E EMPREENDEDORISMO AFRO, OPORTUNIDADES COM A COPA DO MUNDO DE 2010;

4-) APRESENTAÇÃO DA DELEGAÇÃO DE EMPREENDEDORES AFROS E REPRESENTANTES AFRICANOS QUE ESTARÃO NA FEIRA INTERNACIONAL HAIR BRASIL;

Entidades e Orgãos convidados:-

* UNIÃO BRASILEIRA DE FEIRAS - UBRAFE
* MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL
* OAB/SÃO PAULO
* ABIHPEC
* SECRETARIA DE TURISMO DO ESTADO DE SÃO PAULO
* SPTURIS
* CAMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
* CENTRO CULTURAL AFRICANO
* PREFEITURAS MUNICIPAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO
* SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTES DE SÃO PAULO
* MINISTERIO DOS ESPORTES
* MINISTÉRIO DO TURISMO




Convidamdos a todas as lideranças, entidades, empresas, intelectuais, e interessados a prestigiarem este evento nos dando a honra de sua presença.

Atenciosamente,


Francisco Henrique Silvino
Pres. da ANTAB e do CGTNAB
(110 7393-1577



--


FRANCISCO HENRIQUE
PRES. DA EXPOAFRO BRAZIL
PRES. DA ANTAB
(11) 8719-6788 ou (19)9685-5641
assocnacionalafro@yahoo.com
expoafrobrazil@gmail.com

Revista mexicana gera polêmica nos EUA sobre racismo

11/07/08 - 08h46 - Atualizado em 11/07/08 - 08h50
Revista mexicana gera polêmica nos EUA sobre racismo
Wal-Mart suspende a venda da tradicional publicação após queixa de cliente negra.
Da BBC
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A cadeia de lojas Wal-Mart, a maior dos Estados Unidos, decidiu retirar de venda a revista em quadrinhos Memín Pinguín - uma das mais populares do México - depois que uma cliente se queixou de que a publicação é "racista".

Memín é um menino negro que vive em um bairro pobre da Cidade do México, tem lábios muito grossos, olhos e orelhas grandes. Ele vende jornais e engraxa sapatos, mas também vai à escola.

Ele vive com a mãe, o único outro personagem negro da história.

A cliente que se queixou formalmente aos diretores da Wal-Mart, Shawnedria McGinty, também é negra e disse que a caricatura é um insulto. Ela disse que ao abrir a revista se perguntou se o desenho mostrava um menino ou um macaco.

McGinty recebeu o apoio do militante afro-americano Quannel X, que disse em um discurso que os desenhos - "a mãe com lábios grandes e a pele escura, como se fosse um gorila, e ele (Memín), como um macaquinho" - eram como uma bofetada nos negros dos Estados Unidos.

A polêmica aumentou ainda mais porque a edição da revista que a Wal-Mart oferecia tinha o título Memín para presidente, algo que muitos interpretaram como uma alusão à participação de um candidato negro na atual corrida presidencial americana.

Muitos viram nesta revista uma alusão às eleições americanas. O negro Barak Obama é negro e é pré-candidato à sucessão do presidente George W. Bush.

'Ignorância'

A revista em quadrinhos é conhecida no México desde 1940, quando apareceu pela primeira vez. Ao longo dos anos vem sendo uma das mais populares entre as crianças.

A empresa que edita a revista nega que ela tenha conteúdo racista.

"Tomaram esta história como uma questão discriminatória, quando na verdade não é", disse à BBC Mundo Manelick de la Parra, presidente da editora Vid.

Segundo ele, se trata "da história de um negrinho que se destaca e se impõe em uma sociedade discriminatória e sempre ganha. Isto é o que torna Memín tão especial", explicou.

De la Parra disse que Memín para presidente faz referência às eleições presidenciais mexicanas de 2006, e que foi nesse momento que ela foi às bancas no México.

O empresário reclama que este incidente só vai aprofundar as diferenças entre as comunidades mexicanas e afro-americanas, e atribui a queixa e a decisão da Wal-Mart à ignorância.

"E com a ignorância vêm repressão e falta de liberdade", afirmou.

A editora diz que a decisão da Wal-Mart não chega a prejudicar seu desempenho financeiro. Na verdade, a editora seria beneficiada, segundo o presidente da empresa, com o que ele considera uma "publicidade maravilhosa para aqueles que sabem que Memín Pinguín não é racista".

Choque cultural

A reação provocada por Memín pode ter fundos culturais que mostram as diferenças entre Estados Unidos e México.

"A figura de Memín não se traduziu muito bem na cultura americana", disse Raúl Ramos, do Departamento de Estudos México-americanos, da Universidade de Houston, no Estado americano do Texas.

Ramos explica que as falhas de tradução se aplicam também às imagens "porque a sensibilidade ante os temas afro-americanos são diferentes no México, onde não há uma grande comunidade negra, e nos Estados Unidos, onde há um histórico de ícones com conotação racista, como Tia Jemima (imagem de uma marca de panquecas)".

O incidente com Memín Pinguín é para Ramos um exemplo do que acontece quando duas culturas se encontram.

"Isto é resultado da globalização e das migrações de mexicanos para os Estados Unidos e é inevitável. Estas coisas vão continuar acontecendo", disse Ramos.

Mesmo que a comunidade hispânica e a afro-americana tenham lutado juntas em frentes contra o racismo e a exclusão social, "também há diferenças culturais e de linguagem que são muito difíceis de superar".

Ramos espera que o incidente sirva para mostrar que estas diferenças existem e para que as comunidades envolvidas façam um esforço para se entenderem melhor.

http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL643260-5602,00-REVISTA+MEXICANA+GERA+POLEMICA+NOS+EUA+SOBRE+RACISMO.html

Religião dominante no Haiti, vodu mistura elementos cristãos e crenças africanas

28/01/10 - 07h00 - Atualizado em 28/01/10 - 12h46
Religião dominante no Haiti, vodu mistura elementos cristãos e crenças africanas
Religião foi oficializada pelo governo e é praticada nacionalmente.
Rituais lembram a umbanda e o candomblé brasileiros.
Giovana Sanchez
Do G1, em São Paulo
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Em meio à situação de catástrofe humanitária vivida pelos haitianos após o terremoto que devastou o país no dia 12 deste mês, o cônsul do Haiti em São Paulo foi pego numa declaração dizendo que toda aquela tragédia era culpa de uma 'maldição' feita 'pelos africanos que moram lá'. Tentando associar a 'maldição' à 'macumba', George Samuel Antoine quis dizer basicamente que o terremoto foi culpa do vodu - religião amplamente praticada pelos cidadãos do país.

No dia seguinte, o cônsul pediu desculpas pelos comentários - ele ainda disse que a 'desgraça de lá' estava sendo 'boa pra gente aqui'. Mas o "flagra", segundo analistas entrevistados pelo G1, mostra um preconceito que há muitos anos domina a elite ocidental de maneira geral: a visão de que o vodu é uma crença primitiva e de que seria responsável pelo atraso social e até econômico do Haiti.

Cobertura completa: terremoto no Haiti


Haitianas dançam em ritual de vodu em abril de 2004 (Foto: Thony Belizaire/AFP)
A religião existe antes mesmo da criação do país. Uma versão amplamente aceita da história da independência do Haiti, em 1804, conta que a revolta dos negros teve origem em um ritual de vodu.

"O vodu é central na história haitiana e atinge a maior parte da população", explica o antropólogo e professor do programa de pós-graduação em antropologia social da UFRJ Federico Neiburg. Segundo ele, a religião foi construída nas Américas por escravos, como o candomblé no Brasil, e mistura elementos de cultos africanos com o cristianismo. Há entidades que são associadas com santos, e datas festivas católicas que são celebradas pelos praticantes do vodu. "Junto com o vodu, surge uma língua, que é o crioulo, que também é uma mistura."

Veja imagens de cerimônias de vodu no Haiti

Apesar de o vodu estar profundamente atrelado à tradição e aos valores nacionais, houve durante muitos anos uma perseguição aos seus praticantes no Haiti. "A elite haitiana que fez a revolução olhava mais para a França do que para a África. Esse olhar fez com que, durante quase um século, até o início do século XX, a elite haitiana tivesse uma relação paradoxal: rejeitavam o vodu, embora muitos integrantes conhecessem e até praticassem a religião. Eles colocavam a prática como a causa do atraso da nação. Isso começou a mudar na década de 1920 e 1930, no contexto da ocupação norte-americana do país. Essa ocupação (de 1915 a 1934) produziu na elite um sentimento nacionalista e uma volta do olhar para a África", explica o professor Neiburg.

O vodu ainda sofreria um outro revés, em 1940, quando houve uma campanha contra a prática no país. A religião só foi reconhecida oficialmente pelo Estado com a promulgação da Constituição de 1987, que também reconheceu o crioulo como um dos idiomas oficiais do país.

Conheça um pouco sobre os rituais do vodu haitiano:

Iniciação e casamento com espíritos

Segundo a cientista social e doutoranda em antropologia Flávia Dalmaso, que esteve no país presenciando cerimônias de vodu, a iniciação é feita com dança, comida e incorporação de espíritos. Mas isso tudo depois que o iniciado passa uma semana no ‘oufo’, que é local do culto.

Os casamentos, que são realizados entre pessoas e espíritos, também são celebrados geralmente com dança e comida. Na cerimônia presenciada por Flávia, um homem se casou com um espírito que havia solicitado o matrimônio. "A pessoa que encarnou o espírito usou um vestido de cetim zul, que era a cor preferida da entidade, e o noivo estava de branco."


Homem pratica ritual em julho de 2000, no norte de Porto Príncipe (Foto: Thony Belizaire/AFP )

Flávia disse que as cerimônias variam, mas que geralmente quem realiza o matrimônio é um 'père’ - pessoas que fizeram o seminário católico, mas não chegaram a ser padres. Eles se vestem como padres católicos, leem preces e jogam água benta. "É uma figura muito importante no vodu. Estão presentes na iniciação, nas novenas e realizam casamentos", explica ela.

Após se casar com um espírito, o praticante deve respeitar seu desejo e passar um dos dias da semana sozinho, sem sair com ninguém.

Cerimônias e possessão

As cerimônias de vodu haitiano têm música e dança. As mulheres geralmente usam lenços na cabeça e dançam descalças. De acordo com o antropólogo José Renato Baptista, que está terminando o doutorado sobre o vodu e ficou um ano e meio no Haiti, algumas danças são muito sensuais, valorizando o movimento dos ombros e dos quadris. "As cerimônias são marcadas pelo ritmo, é uma música forte, muito interessante, agitada, tocada normalmente por três ou mais tambores, mais ou menos como o nosso candomblé", explica ele.

Já a questão da possessão, segundo ele, "é um grande mistério". "É uma discussão profunda. Partimos do pressuposto de que aquela experiência se baseia numa verdade vivida por aquelas pessoas." A possessão ocorre em situações específicas e, segundo José Renato, é parte fundamental da religião à medida que é uma forma de contato privilegiado com as divindades.

O chefe religioso é o ‘ougan’ - o equivalente ao nosso pai de santo. O equivalente feminino ao ougan é o ‘mambo’. São eles que percebem a presença das entidades - os 'loan'. Isso pode acontecer por cartas, ou por pessoas que passam por crises pessoais. "Essa relação com os loan pressupõe uma relação com ancestrais ou uma relação mítica. O pressuposto fundamental é servir a uma divindade. Muitas vezes esse loan é uma herança familiar, um ancestral que se manifesta, que vem para ajudar ou cuidar de seus parentes. A formação do vodu tem muito a ver com essa idéia do culto aos ancestrais", explica o antropólogo.

Sacrifício animal

Diferentemente das religiões de origem africana praticadas no Brasil, no vodu haitiano o sacrifício animal é realizado publicamente. O animal é morto, seu sangue é utilizado em determinadas ações rituais e depois a carne é preparada e servida como comida na cerimônia. O sacrifício é realizado como uma oferenda para as divindades.


O animal é sacrificado em homenagem às entidades. Depois, a carne é preparada e servida para os seguidores. Na foto, um sacrifício durante ritual em abril de 2003 (Foto: Thony Belizaire/AFP)

Zumbis

A simbologia do zumbi é muito conhecida no Ocidente principalmente por terem sido imortalizados no cinema, em filmes como "The white zombies" (de Victor Halperin, 1932) e "A noite dos mortos vivos" (dirigido por George Romero, em 1968). O zumbi seria uma pessoa que ingere uma substância, tem uma morte aparente e, depois de enterrada, é tirada do túmulo e fica num estado letárgico sob os comandos de alguém.

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Segundo José Renato, o zumbi é, antes de tudo, um escravo. "Existe todo um mito em torno das ideias de envenenamento, de utilização de magia no Haiti. Há um preconceito construído em torno disso. Eu vivi um ano e meio no país e nunca vi um zumbi. Muitas vezes, quando alguém fala de zumbi, pode ser uma pessoa abandonada pela família, há casos de pessoas que perdem a memória e essa pessoa pode ser apropriada como um empregado não remunerado. Há uma mística em torno da figura, mas eu não duvido que exista."

Segundo ele, no norte do país, nas plantações de cana, fala-se que a riqueza de certos fazendeiros advem de terem muitos zumbis trabalhando. "A ideia da mão-de-obra escrava tem muito a ver com isso, é preciso contextualizar", explica José Renato.


http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1458708-16107,00-RELIGIAO+DOMINANTE+NO+HAITI+VODU+MISTURA+ELEMENTOS+CRISTAOS+E+CRENCAS+AFRIC.html