segunda-feira, 4 de maio de 2009

Reitores de universidades federais defendem cota para alunos locais

Com a criação do novo Enem, reitores de universidades federais querem criar cotas regionais para evitar que as faculdades sejam "invadidas" por alunos de outros Estados, já que os candidatos poderão concorrer em várias instituições fazendo uma única prova. A proposta deverá ser discutida pela Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior.
O objetivo, segundo o presidente da entidade e reitor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Amaro Pessoa Lins, é fortalecer o ensino regional e manter o cenário atual, no qual a maioria dos matriculados é oriunda do ensino médio do próprio Estado.
"Há uma grande diferença entre o ensino nas diversas regiões do país. Não é justo, principalmente nos cursos com demanda alta, como medicina, termos estudantes concorrendo no mesmo nível", diz Lins. "Somos uma universidade no meio do sertão. Se você coloca em situação de igualdade o [nosso] estudante com um paulista ou do Sul, isso poderá ser um problema", diz o reitor da Universidade Federal do Vale do São Francisco, José Weber, que defende a reserva de vagas.
Sem salvaguardas, os reitores acreditam que haverá distorções, já que o aluno escolherá a universidade sabendo sua nota do Enem. Isso permitirá que ele opte por uma federal de outro Estado se achar que não terá chance em uma mais disputada de seu local de origem.
Os dados do Enem 2008 mostram que esse temor é procedente. Na prova deste ano, os alunos do Sudeste obtiveram o melhor desempenho: 51,21 pontos, em escala de zero a cem, na nota que une a prova objetiva e a redação. Em segundo lugar ficou o Sul, com 50,86.Norte e Nordeste tiveram média cinco pontos menor -45,89 e 46,2, respectivamente. A comparação tem ressalvas, já que as notas médias não mostram nem os melhores alunos do interior do Norte e Nordeste nem os piores das capitais do Sul e Sudeste. De toda forma, são indicadores do nível educacional de cada localidade.
Reitor da UFBA, Naomar de Almeida Filho, é uma das poucas vozes dissonantes. "A mobilidade que se está esperando irá contribuir com o desenvolvimento regional", afirma.
AFONSO BENITES e PABLO SOLANO, da Agência Folha. 01/05/2009 - 11h00

Judeus e homossexuais protestam contra vinda de presidente do Irã

Manifestação reuniu cerca de 400 pessoas na região central de SP.Mahmoud Ahmadinejad deve chegar ao Brasil na quarta-feira (6).
A iminente visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil, marcada para a próxima quarta-feira (6) em Brasília, continua causando protestos. Integrantes da comunidade judaica, em conjunto com líderes de movimentos homossexuais, promoveram neste domingo (3) pela manhã, na Praça dos Arcos, região central de São Paulo, uma manifestação contra a vinda do polêmico dirigente do Oriente Médio
Cerca de 400 pessoas, segundo cálculos da Polícia Militar, estiveram presentes no protesto iniciado às 11h e que durou cerca de 1h30. Líderes judeus e homossexuais discursaram contra Ahmadinejad, afirmando que a vinda dele é um desserviço para o Brasil, além de ser uma afronta às duas comunidades e a qualquer cidadão brasileiro.
“É inacreditável que o Brasil tenha convidado uma pessoa tão preconceituosa e sem escrúpulos para vir para cá, em nome de acordos comerciais”, afirmou Michel Fried. “O
que vai mudar para nós, fazer ou não negócios com o Irã?”

Outro que não se conformava com o convite era José Marcelo. “Estou aqui porque repudio qualquer forma de preconceito e terrorismo. Levá-lo para Brasília é ainda mais grave que chamar o traficante Fernandinho Beira-Mar para fazer negócios”, afirmou. “O Lula errou feio, espero que ainda dê tempo para desconvidá-lo”.
Denis Freire de Almeida Do G1, em São Paulo . 03/05/09 - 13h58 - Atualizado em 03/05/09 - 22h18

domingo, 3 de maio de 2009

Presos suspeitos de matar casal em Curitiba

As investigações mostram que o crime foi motivado pela disputa num grupo de neonazistas.
Em Curitiba, a polícia apresentou, neste sábado, seis acusados de envolvimento no assassinato de um casal de namorados. As investigações mostram que o crime foi motivado pela disputa num grupo de neonazistas. São todos jovens de classe média e com formação universitária. Um deles, soldado do exército, foi preso dentro do quartel em Curitiba. Também houve prisões em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Na casa dos acusados foi encontrado material que segundo a polícia faz apologia ao nazismo. As investigações começaram, depois do assassinato de um casal na região de Curitiba, que teria sido motivado por uma disputa pela liderança do movimento no Paraná. Bernardo Deyrel pedroso, de 24 anos e Renata Waeschter Ferreira, de 21 anos, foram mortos a tiros na saída de uma festa, no dia 21 de abril. As imagens feitas por um integrante do grupo mostram a festa, uma comemoração pelo aniversário do ditador nazista, Adolf Hitler. As investigações apontam que a arma do crime foi trazida da argentina. A polícia afirma que o administrador de empresas, Ricardo Barlolo, preso em São Paulo, é o mandante do assassinato dos dois estudantes. Ele negou. Para a polícia, Ricardo encomendou o crime para acabar com a formação de uma facção paralela do grupo no Paraná.
02/05/09 - 21h52 - Atualizado em 02/05/09 - 21h5. GLOBO.COM

Afrocentricidade

Afrocentricidade

400 págs., R$ 69,90

de Elisa Larkin Nascimento (org.). Trad. Carlos Alberto Medeiros e Elisa L. Nascimento. Selo Negro (r. Itapicuru, 613, 7º andar, CEP 05006-000, São Paulo, SP, tel. 0/ xx/ 11/ 3872-3322).O quarto livro da coleção Sankofa discute a abordagem historiográfica do ponto de vista africano e mostra suas aplicações teóricas em temas como identidade da mulher negra e o papel histórico dos descendentes de escravos fugidos.

Conferência contra o racismo

Apesar de décadas de mobilização, a verdade é que o racismo persiste. Nenhuma sociedade, rica ou pobre, está imune

NAVI PILLAY

A CONFERÊNCIA de Revisão de Durban aconteceu em Genebra na semana passada e o mundo não parou de girar, como os detratores da conferência queriam que pensássemos que aconteceria. De fato, é possível que o mundo tenha se tornado um lugar melhor, agora que a conferência adotou por consenso um documento que se inspira no compromisso, assumido em Durban (África do Sul) há oito anos, de combater a discriminação racial e a intolerância em todo o mundo. Apesar de décadas de mobilização, dos esforços de muitos grupos e de muitas nações e das inúmeras provas de suas terríveis consequências, a verdade é que o racismo persiste. Nenhuma sociedade, grande ou pequena, rica ou pobre, está imune. A conferência de Genebra (Suíça) foi uma oportunidade para os países chegarem a um acordo sobre um documento comum que consagrasse uma aspiração comum: a de rejeitar o racismo em todas as suas manifestações e trabalhar para eliminá-lo. No entanto, durante mais de um ano, algumas vozes apelaram ao boicote da conferência. Essa oposição se baseava, em grande medida, no receio de que o encontro desencadeasse a repetição das virulentas atividades antissemitas que algumas ONGs levaram a cabo em 2001, à margem da conferência em Durban. Os atos deploráveis de uns quantos mancharam a reputação de todo o processo, desde 2001 até este ano. Dez Estados-membros da ONU, incluindo Canadá, Israel, EUA, Austrália e Nova Zelândia, e 5 dos 27 países da União Europeia decidiram não participar do encontro de Genebra, que foi convocado pela Assembleia Geral da ONU para analisar a aplicação da Declaração e Programa de Ação de Durban, o documento final da conferência de 2001. A ausência desses países revelou-se preocupante quando, no primeiro dia da conferência, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pronunciou um discurso em que atacava Israel, os EUA e outros Estados ocidentais, utilizando o fórum da ONU para uma retórica política facciosa. Contudo, essa atitude foi rotundamente rejeitada no dia seguinte com a adoção, por consenso, de um documento que constitui a última palavra da conferência. Os Estados demonstraram determinação, espírito de compromisso e respeito pela diversidade ao se mobilizarem, unidos, em prol de uma causa comum e urgente. Esperamos que o acordo gere efeitos benéficos duradouros para as inúmeras vítimas do racismo, da discriminação e da intolerância. No documento, os Estados se comprometeram a impedir manifestações de racismo, discriminação racial e xenofobia, sobretudo em relação a migrantes, refugiados e requerentes de asilo. Eles também acordaram em promover maior participação e oportunidades para as pessoas de origem africana e asiática, os povos indígenas e os indivíduos pertencentes a minorias étnicas, religiosas e linguísticas. Comprometeram-se a assegurar que a discriminação não afete aberta ou dissimuladamente o acesso a emprego, serviços sociais, cuidados de saúde e participação em outras esferas. O documento reafirma a importância fundamental da liberdade de expressão e sublinha sua compatibilidade com a legislação internacional em vigor que proíbe a incitação ao ódio. Isso deveria ajudar a superar a divisão artificial em torno de certos assuntos sensíveis relacionados com a religião, que, à força de ser tão falada, poderia tornar-se uma realidade, desencadeando um conflito de civilizações. Além disso, o documento final representa o importante reconhecimento das injustiças e atrocidades do passado e propõe medidas para evitar que voltem a acontecer. Entre elas figura o compromisso de proibir atividades violentas, racistas e xenófobas de grupos que adiram a ideologias baseadas na supremacia. A conferência proporcionou uma plataforma para um novo começo. Os poucos Estados que decidiram manter-se à margem deveriam avaliar agora o documento final em razão do seu mérito e conteúdo. Muitos desses Estados participaram da sua elaboração e fizeram parte do consenso que foi se estabelecendo até a véspera da conferência. É por isso que tenho esperança de que se associarão aos esforços internacionais para combater o racismo e a intolerância formulados nesse importante documento. Não devemos ceder espaço àqueles que pretendem alimentar uma controvérsia que contribui para a intolerância. É mais importante para não permitir que nos façam esquecer nosso objetivo principal: fomentar sociedades em que não haja discriminação e um mundo em que haja igualdade de tratamento e de oportunidades para todos nós ou, pelo menos, para nossos filhos e os filhos dos nossos filhos. NAVI PILLAY, mestre e doutora em direito pela Universidade Harvard, é a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Foi a primeira mulher não branca a atuar na Suprema Corte da África do Sul.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009. Folha de São Paulo, Opinião.