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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Nudez, favela e plástica resumem o Rio em festival de cinema canadense

15/09/2010 19h00 - Atualizado em 15/09/2010 20h37

Nudez, favela e plástica resumem o Rio em festival de cinema canadense
'Rio sex comedy' é dirigido pelo americano-brasileiro Jonathan Nossiter.

Produtor diz que filme 'dividirá opiniões' mas recusa comparação a 'Turistas'.

Ronaldo Pelli
Do G1 RJ

A estreia no Festival de Toronto de um filme que tem o Rio de Janeiro como cenário tem tudo para inflamar os ânimos dos brasileiros mais nacionalistas. “Rio sex comedy” mistura algumas situações recorrentes do imaginário coletivo do Brasil, como a paixão por cirurgia plástica, a proximidade entre favela e asfalto e mulheres bonitas para fazer humor.

Ilustrado com a foto de uma atriz nua, caracterizada como índia e dançando em frente a um "gringo" em uma floresta, o longa de Jonathan Nossiter é descrito em sua sinopse no site do festival como "uma farra delirante e insolente que explora as bizarras contradições que são um fato na vida diária desta metrópole pulsante". "Rio sex comedy" terá sua primeira exibição no Canadá nesta quinta-feira (16).

“Com certeza, trata-se de um filme polêmico, que dividirá opiniões, mas está na direção oposta do ‘Turistas’, que não passa de um lixo americano”, adianta ao G1 o brasileiro Flávio R. Tambellini, coprodutor do filme - que teria cenas em Copacabana e na favela do Vidigal. “Trata se de um filme politicamente incorreto, que usa a linguagem do cinema independente e mistura ficção e realidade”, defende o tarimbado Tambellini, cujo currículo inclui ainda obras como “Cazuza – o tempo não para” e “Os desafinados”.

A sinopse diz também que “Rio sex comedy” tem como personagens uma cirurgiã-plástica inglesa (Charlotte Rampling), o embaixador americano no Brasil (Bill Pulman), e um casal de intelectuais franceses (Irène Jacob e Jean-Marc Roulot) que vem tentar fazer um filme aqui. O destino de todos, ainda segundo o texto de apresentação, se encerra nas favelas cariocas.


Charlotte Rampling e Bill Pulman em cena de 'Rio
sex comedy' (Foto: Paula Prandini / Divulgação)“Esse elenco reflete o prestígio de Jonathan, como cineasta. Os atores toparam fazer o filme no risco“, completa Tambellini, se referindo ao diretor Jonathan Nossiter, americano, fluente em seis línguas e naturalizado brasileiro, além de ser casado com uma brasileira e ter três filhos brasileiros.

“Jonathan é talentoso, mas tem uma personalidade complexa e difícil. Um cineasta obcecado por seu trabalho”, fala Tambellini sobre o cineasta que com o seu “Mondovino” fez sucesso no Brasil e concorreu à Palma de Ouro em 2004.

De acordo com o produtor, depois de Toronto, "Rio sex comedy" será exibido no Festival do Rio, que tem início no final do mês. A sessão deve contar com a presença das atrizes Charlotte Rampling e Irène Jacob.




http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/09/nudez-favela-e-plastica-resumem-o-rio-em-festival-de-cinema-canadense.html

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

http://www.geledes.org.br/variedades/cineasta-desvenda-carreira-de-john-coltrane.html

Cineasta desvenda carreira de John Coltrane



Leia materia completa: Cineasta desvenda carreira de John Coltrane | Portal Geledés



Por: FABRICIO VIEIRA

Filme resgata canções clássicas e apresentações raras do saxofonista

John_Coltrane

A vida de John Coltrane pode não ter sido muito longa. Todavia, os 40 anos vividos pelo saxofonista americano acabaram por se revelar suficientes para que uma das obras mais densas e complexas do jazz fosse criada.
Desvendar o percurso do celebrado músico é a proposta do documentário "The World According to John Coltrane", que acaba de receber versão nacional.


A missão do diretor Robert Palmer não era das mais simples: abordar a extensa carreira de Coltrane (1926-1967) em um filme não muito longo, com cerca de uma hora de duração.


Para compor esse painel, o diretor convocou músicos que conviveram ou foram influenciados por ele. Os saxofonistas Wayne Shorter e Roscoe Mitchell, o pianista Tommy Flanagan e o baterista Rashied Ali estão entre os que dão seus depoimentos.


Infelizmente, o acervo de imagens de Coltrane tocando não é muito rico.


O filme procurou aproveitar cenas de diferentes períodos, dando ênfase ao saxofonista exibindo alguns de seus clássicos, como "Impressions" e "Naima".


Se há um destaque, são as raras imagens de uma apresentação de 1966, no Newport Jazz Festival, cerca de um ano antes de sua morte.


Podemos ver ali o músico no auge de suas explorações sonoras, em meio a um solo dissonante e arrebatador, que expressa toda a radicalidade do free jazz, no qual mergulhou a partir de 1965.


Apesar de ter se dedicado à música durante toda a vida, Coltrane apenas realizou suas primeiras gravações como líder quando já estava com 30 anos.


Ou seja, teve apenas uma década para edificar uma obra caracterizada pela constante necessidade de ruptura, marcada pela superação dos limites e das convenções do jazz.

OUTRAS PERSPECTIVAS
Um dos pontos em relevo no filme é o interesse de Coltrane por outros universos sonoros, além do jazz.


"Escutava música hindu, oriental, de templos budistas, japonesa, africana e até mesmo brasileira. Ele gostava muito de música espiritual, de culto. Dizia que queria pesquisar os sons do mundo, que cada lugar tinha algo a acrescentar [à sua música]", revela Alice Coltrane, viúva do saxofonista.


Como o documentário foi realizado originalmente no começo da década de 1990, alguns de seus personagens já morreram, como os músicos Alice Coltrane (1937-2007) e Rashied Ali (1935-2009).


http://www.geledes.org.br/variedades/cineasta-desvenda-carreira-de-john-coltrane.html

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Quadrinhos resgatam história da presença africana no Brasil

Quadrinhos resgatam história da presença africana no Brasil




Por Mariana Ferraz

O livro “AfroHQ: História e Cultura Afro-brasileira e Africana em Quadrinhos”, produzido em parceria pelas alunas de Artes Plásticas da UFPE Danielle Jaimes e Roberta Cirne e o professor Amaro Braga, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), busca o resgate da história da presença africana no Brasil e suas contribuições para a formação da cultura brasileira. A obra de 90 páginas foi lançada em julho na. Ex-professor substituto da UFPE, Braga realizou o trabalho de pesquisa e redação do roteiro, enquanto o visual (desenhos e pintura) foi criado pelas alunas.

Narrada pelos orixás, a aventura inicia no surgimento do homem na África, passa pela escravidão e chega a não apenas pontuar, mas aprofundar as contribuições materiais e imateriais do povo afro no patrimônio brasileiro. Para elaborar o roteiro, Braga utilizou-se de uma vasta bibliografia sobre a presença negra no país, desde o clássico “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre a vários manuais publicados pelo Ministério da Educação (MEC) nos últimos anos. As prévias do roteiro e do desenho, criados a partir da discriminação das cenas, eram apresentadas aos consultores, que emitiam críticas para guiar a equipe a fim de propiciar ao trabalho uma transdisciplinaridade que não privilegiasse nenhuma das abordagens (História, Antropologia, Sociologia e Política).

Sobre a produção das imagens, Daniele revelou que cada uma das 3 tiras que compõem as páginas, com média de 2 quadrinhos cada, foram feitas em folhas A4 e depois juntadas, para aumentar a qualidade do trabalho. Há também páginas com uma única ilustração vertical; nesse caso, para não fracionar a gravura, ela foi desenhada em uma única folha. À medida que criaram as representações dos personagens, uma designer mostrava à outra para que ela copiasse quando necessário formando a sólida linha condutora da obra. Os traços são incrivelmente detalhados, com abundância de cores – característica da cultura afro – na maior parte das páginas.

De acordo com o Braga, a sintonia entre as alunas permitiu maior agilidade à etapa de arte do trabalho. Os traços, apesar de guardarem suas particularidades, são muito parecidos aos olhos do leitor desatento, proporcionando unicidade à obra. “As meninas têm um traço completamente especial, único; fazem um desenho muito realista e ao mesmo tempo leve e sinuoso, o que imprime um ar nostálgico ao trabalho. Quando descrevo uma cena e falo das características plásticas que quero impor ao material, elas entendem perfeitamente”, elogiou Braga, que também escolheu o design das letras da HQ.

A publicação chega ao mercado no período da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial pelo Senado Federal (16 de junho), que aguarda apenas a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, desde 2003 existe a lei que prevê a obrigatoriedade do ensino de conteúdos curriculares sobre a História e a Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas. Os professores poderão, portanto, apresentar estes conteúdos em sala de aula com maior facilidade, atraindo a atenção dos alunos com o conteúdo visual de alta qualidade. A barreira do preconceito, no entanto, ainda persiste: muitas escolas religiosas não aprovam a presença dos orixás, pois é uma crença não-ortodoxa. Para Roberta, a utilização deste tipo de material “depende da abertura da escola, vai da cabeça de cada diretor”. Há educadores que questionam, inclusive, se histórias em quadrinhos são uma forma legítima de arte.

O patrocínio do Funcultura, do Governo do Estado de Pernambuco, foi vital para a realização do projeto, pois permitiu que Roberta e Danielle se dedicassem quase exclusivamente à confecção dos desenhos. Além disso, o alto preço da parte gráfica foi custeado por esse investimento, que foi aprovado em dezembro de 2008. No total, o trabalho durou pouco mais de um ano. No lançamento da AfroHQ, estiveram presentes um grande número de yalorixás (mães-de-santo) e o mestre do quadrinho nacional Lailson de Holanda Cavalcanti, grande incentivador da produção de quadrinhos em Pernambuco. Os autores procuram uma editora que invista na expansão do produto, “já que esta primeira tiragem é praticamente exclusiva para bibliotecas de escolas públicas”, contou Daniele.

Este é o sétimo álbum feito pelo professor em parceria com Danielle e Roberta. O primeiro volume da série de histórias em quadrinhos – “Passos Perdidos, História Desenhada: A Presença Judaica em Pernambuco no Século XX” – resultou da adaptação do livro “Passos Perdidos, História Recuperada: A Presença Judaica em Pernambuco”, da professora Tânia Kaufman (UFPE). O penúltimo álbum, "Heróis da Restauração Pernambucana" (2009), foi uma adaptação dos livros do Professor José Antônio Gonçalves de Mello, professor de História emérito da UFPE. O próximo livro irá abordar as contribuições da cultura indígena para a formação do Brasil, enfatizando as dez nações indígenas de Pernambuco.

Mais informações
Professor Amaro Braga
(82) 3214.1323


http://www.ufpe.br/agencia/index.php?option=com_content&view=article&id=37855:quadrinhos-resgatam-historia-da-presenca-africana-no-brasil&catid=20&Itemid=77


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Vol. 1, No 2 (1): Revista da ABPN - Volume 1, número 2, julho-outubro de 2010 - ISSN 2177-2770

Capa Revista ABPN

Apresentação

Ana Flávia Magalhães Pinto

Muitos são os lugares a partir dos quais as/os pensadoras/os negras/os têm apresentado suas reflexões sobre experiências individuais e coletivas de africanos e afrodescendentes no mundo ao longo do tempo. Ancoradas em tradições também diversas de produção de conhecimento, essas pessoas têm levado a cabo um esforço legítimo, quando não urgente, de garantir a vitalidade de expressões do pensamento crítico e comprometido com a defesa da liberdade e a luta por equidade em todos os espaços sociais.

Inserida nesse campo de ação, a Revista da ABPN, em seu segundo número, apresenta um conjunto de artigos nos quais se discute desde a afirmação de epistemologias negras até a operacionalização de propostas de superação do racismo e outras formas associadas de discriminação. Com efeito, a vozes que emergem desses escritos dão mostras, mais uma vez, da fortuna crítica construída por intelectuais negras/os nos últimos anos.

O artigo de Gislene Aparecida dos Santos, que abre a coletânea, parte da necessidade de se reconhecer a experiência da racialização como dado constitutivo das estruturas de pensamento, argumentando sobre os limites filosóficos do racionalismo moderno. A autora nos convida a pensar sobre a importância dos saberes produzidos cotidianamente, a fim de que esses possam ser deslocados da periferia para o centro das reflexões sobre a produção de conhecimento.

João Costa Vargas, dando força à proposta de Santos, avança nesse terreno por meio de dados empíricos e enfrenta o debate sobre os limites e as potencialidades da libertação na Diáspora Negra, tendo como referência a atuação de grupos de ativistas no Brasil e nos EUA. A Diáspora Negra, com efeito, é entendida como espaço estratégico do genocídio antinegro e, ao mesmo tempo, como um território disponível para o desenvolvimento de ações que deem conta da "urgência de sobrevivência" dos povos negros. Por sua vez, o artigo de Dalila Fernandes de Negreiros nos possibilita, a partir dos estudos em Geografia sobre desterritorialização, entender melhor o conceito de Diáspora Negra em sua dimensão emancipatória.

Em outra frente, as lutas por liberdades são relembradas por Geri Augusto que, na ocasião do 50º aniversário do Comitê Não-Violento de Coordenação Estudantil (SNCC), neste ano, apresentou pela primeira suas recordações pessoais sobre os processos de luta pelos direitos civis nos EUA nos anos 1960. A autora faz referência às práticas educacionais negras no âmbito da chamadaBlack Education, bem como ilumina a atuação de uma série de intelectuais-ativistas que, embora anônimos, tiveram importância fundamental.

Outros questionamentos sobre as práticas de cerceamento de direitos e racismo contra negros, numa perspectiva historiográfica, são abordados por Luísa Gonçalves Saad no artigo "Medicina Legal: o discurso médico, a proibição da maconha e a criminalização do negro", que demonstra como os discursos sobre proibição do uso de drogas aceitas até o fim do século XIX se valeram de representações negativas a respeito das populações negras nas Américas no pós-abolição.

Isabel Cristina Ferreira dos Reis recua um pouco no tempo para tratar da constituição das famílias negras no período escravista. Mediante o reconhecimento da proximidade entre os mundos da escravidão e da liberdade, a autora extrapola os limites dos estudos feitos a partir da idéia de família escrava e demonstra como africanos e seus descendentes tanto desenvolveram laços afetivo-familiares quanto se esforçaram para mantê-los.

Já Erly Guedes Barbosa e Silvano Alves Bezerra da Silva investem na análise das representações veiculadas por revistas femininas sobre as mulheres e iluminam como esses meios de comunicação têm reproduzido formas discursivas que alimentam o racismo e o sexismo na atualidade. Relativamente próximo a esse debate está a discussão apresentada por Edilene Machado Pereira e Vera Rodrigues sobre seletividade afetiva entre mulheres e homens negros, num estudo comparativo das realidades de Salvador e Porto Alegre.

A literatura e a expressão escrita de escritores afro-brasileiros desde o século XIX é o tema do artigo de Florentina Souza, que busca registrar a produção desses sujeitos que não apenas foram interpelados, como problematizaram a dinâmica de racialização e racismo em suas respectivas obras. Outra importante contribuição é oferecida por José Endoença Martins que, a partir das categorias "negrice", "negritude" e "negritice", desenvolve uma crítica literária capaz de reconhecer e dialogar com as experiências contraditórias dos personagens presentes no romances O Mundo se Despedaça, do literato nigeriano negro Chinua Achebe, e Chorai, Pátria Amada, de Alan Paton, escritor branco sul-africano.

Os dois últimos artigos deste número tratam de questões relativas à interface entre Direito e Educação. Luiz Fernando Martins da Silva apresenta um balanço das lutas recentes por legitimação das ações afirmativas. O autor recupera criticamente os instrumentos jurídicos nacionais e internacionais ratificados pelo Estado brasileiro para, então, demonstrar a compatibilidade entre as políticas de ação afirmativa e de cotas para negros e Constituição do país. Por fim, Edwilson da Silva Andrade e Ilzani Valeira dos Santos expõem os resultados de sua pesquisa sobre as estratégias de formação continuada dos estudantes de Pós-Graduação Lato Sensu do curso Relações Étnico-Raciais e Educação no Cefet/RJ.

Boas leituras!






Vol. 1, No 2 (1): Revista da ABPN - Volume 1, número 2, julho-outubro de 2010 - ISSN 2177-2770

Sumário

Artigos

Filosofia, diversidade e a questão do negro: argumentos criados no seio da filosofia podem nos auxiliar a entender a questão racial contemporânea?TEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN
Gislene Aparecida dos Santos
A Diáspora Negra como Genocídio: Brasil, Estados Unidos ou uma geografia supranacional da morte e suas alternativasTEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN
João Costa Vargas
Identidade, território e raça: uma proposta de análise geográfica da Diáspora africana.TEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN / RESUMÉ
Dalila Negreiros
Luz e Canções de Liberdade: reflexões sobre o legado do Comitê Não-Violento de Coordenação Estudantil (SNCC) para o Internacionalismo NTEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN
Geri Monice Augusto
Medicina Legal: o discurso médico, a proibição da maconha e a criminalização do negroTEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN /
Luísa Gonçalves Saad
Breves reflexões acerca da historiografia sobre a família negra na sociedade escravista brasileira oitocentistaTEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN
Isabel Cristina Ferreira dos Reis
Cor e Sexo no Jornalismo: representações das mulheres negras nas páginas de revistas femininasTEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN
Erly Guedes Barbosa, Silvano Alves Bezerra da Silva
Amor não tem cor?! Gênero e raça/cor na seletividade afetiva de homens e mulheres negros(as) na Bahia e no Rio Grande do SulTEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN
Edilene Machado Pereira, Vera Rodrigues
Autorrepresentação e intervenção cultural em textualidades afro-brasileirasTEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN
Florentina Souza
Negrice, Negritude, Negritice: conceitos para a análise de identidades afrodescendentes nos romances O Mundo se Despedaça, de Chinua Achebe, e Chorai, Pátria Amada, de Alan PatonTEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN
José Endoença Martins
Apontamentos sociojurídicos sobre o tema “políticas públicas de ação afirmativa para negros no Brasil”TEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN
Luiz Fernando Martins da Silva
Reflexões sobre a Formação Continuada no âmbito das Relações Etnicorraciais: Uma experiência em nível de Pós-Graduação Lato Sensu no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow Da FonsecaTEXTO COMPLETO ABSTRACT / RESUMEN
Edwilson da Silva Andrade, Ilzani Valeira dos Santos



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Revista ABPN - Periódico Multidisciplinar, Quadrimestral - ISSN 2177-2770
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sábado, 29 de maio de 2010

Mestrado de major diz que PM é racista

Quinta-feira, 27 de maio de 2010 - 22:30

Mestrado de major diz que PM é racista

Pesquisa aponta que 51% dos negros no Brasil declararam que já sofreram discriminação durante abordagens policiais

LUCIANO CAVENAGUI
lucianoc@diariosp.com.br
TAHIANE STOCHERO
tahiane.stochero@diariosp.com.br

Quando o motoboy Eduardo Luiz Pinheiro dos Santos foi morto dentro de um quartel na Zona Norte, sua mãe não teve dúvidas em dizer que o filho foi morto por ser negro. Duas semanas depois, a conclusão da mãe do entregador de pizza Alexandre Menezes dos Santos foi a mesma: a abordagem policial terminou em assassinato devido ao racismo.

Uma dissertação de mestrado feita por um membro da própria corporação afirma que a discriminação é um traço marcante dos policiais militares. O estudo foi elaborado pelo major Airton Edno Ribeiro, chefe da divisão de ensino do Centro de Altos Estudos de Segurança (CAES), espécie de escola de pós-graduaçao da PM para oficiais com altas patentes.

O major, que é negro, se tornou mestre em Educação das Relações Raciais após a dissertação “A Relação da Polícia Militar Paulista com a Comunidade Negra e o Respeito à Dignidade Humana: a Questão da Abordagem Policial”, apresentada no final de 2009 na Universidade Federal de São Carlos, a 255 quilômetros da capital. O trabalho, de 129 páginas, elenca diversos livros sobre o tema, pesquisas de institutos e levantamentos próprios do major. Foram ouvidos 50 cabos e soldados, que admitiram que, antes de entrarem na PM, achavam que havia preconceito contra negros. Após o ingresso, tiveram certeza.

Para o major, uma das principais razões para o preconceito nas abordagens é a “cultura organizacional” da instituição. “Não foram poucos os relatos dos participantes da pesquisa sobre a herança histórica de perseguição aos negros pela polícia”, disse .

De acordo com Ribeiro, o racismo só irá diminuir, lenta e gradualmente, quando a formação do policial mudar. “É preciso dar ênfase no respeito à dignidade humana dos negros nas abordagens, o que exige mudança do modelo conceitual de gestão educacional”, afirmou.

Para atestar o racismo na PM, Ribeiro citou o último estudo de abrangência nacional sobre o tema, a pesquisa “Discriminação racial e preconceito de cor no Brasil”, realizada em 2003 pela Fundação Perseu Abramo, instituição ligada ao PT. O estudo mostrou que 51% dos negros declararam que já sofreram discriminação da polícia. O percentual caiu para 15% quando a mesma pergunta foi feita aos brancos. Dos negros vítimas de preconceito, 78% disseram que foram discriminados por policiais brancos. Foram ouvidas 5.003 pessoas com 16 anos ou mais em 266 municípios. As entrevistas foram feitas nas residências dos consultados, com duração média de 60 minutos.

Outro índice que relaciona violência e racismo é o Mapa da Violência 2010, em que foram analisados homicídios entre 1997 e 2007. Com base no estudo, é possível projetar que, em nível nacional, um negro tem 107,6% mais chance de morrer do que uma pessoa branca. Em São Paulo, segundo último levantamento do Departamento Penitenciário Nacional, feito em dezembro de 2009, os negros são maioria nas prisões, com o índice de 50,46%. Para efeitos estatísticos desta pesquisa, os pardos (mulatos, caboclos, cafuzos, mamelucos ou mestiços de negro com pessoa de outra raça) são considerados negros.

'Pobreza diz mais que raça'
Para o sociólogo e doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP), Demétrio Magnoli, ainda não há evidências de racismo nos últimos casos de violência em São Paulo. “A questão econômica é mais forte do que a racial. Os pobres sofrem mais com a polícia do que os ricos. Ninguém comenta os crimes cometidos contra brancos pobres”, avaliou o sociólogo e geógrafo.

De acordo com Magnoli, o Brasil não tem um Estado racista nem uma nação com preceitos racistas, pois não há leis com conceitos segregacionistas. “O preconceito contra negros existe no país, assim como temos outros tipos de discriminação envolvendo homossexuais e pessoas gordas, por exemplo. Não podemos dizer que a questão racial é predominante”, argumentou o intelectual.

A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Íris Rodrigues de Oliveira, especializada em questões raciais, afirma que o problema está na violência policial.

“Considero que a polícia, em vez de racista, padece mais de falta de educação. Diversas pessoas brancas são tratadas de forma brutal durante as operações, assim como os negros. No Brasil, o racismo dissimulado pode ser mais grave do que o declarado”, afirmou Íris.

Defendendo uma posição oposta à de Magnoli, o antropólogo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Acácio Almeida dos Santos afirmou que o Brasil tem um Estado racista e, por consequência, a polícia também é igual. “Existe racismo embutido em todas as esferas de poder no país. Historicamente, conceitos de purificação racial tomaram força no Brasil e contaminaram diversos setores da sociedade”, afirmou.

Negro, corregedor diz que tese exagera
Para o novo corregedor da PM, coronel Admir Gervásio Moreira, a corporação não é racista. “É um exagero e seria leviano afirmar que os policiais abordam de maneira diferente as pessoas negras. Isso não existe. Se isso ocorrer, é errado e fora das instruções e treinamentos dados”, diz Gervásio.

O oficial, ele próprio negro, acredita ser “hipocrisia” afirmar que não há racismo no país. “Racismo existe, mas isso depende das pessoas, não das instituições”, afirma o corregedor.

O coronel entende que não houve racismo no caso em que um motoboy que foi morto agredido por PMs na Zona Sul da capital. “Ele estava usando capacete e era noite. Não o perseguiram porque era negro. Não vejo uma escolha direcionada de postura de racismo. Foi uma coincidência”, acredita.

Gervásio diz desconhecer o estudo do major Airton Edno, mas afirma não concordar com a visão de que os policiais maltratam ou abordam de maneira diferente negros. “Só pela possibilidade de ser abordado por uma viatura, estando cometendo um crime ou não, um negro pode se sentir constrangido. Muitos podem reclamar até mesmo se o PM for um irmão de cor”, diz o coronel. Nos casos recentes dos motoboys mortos pela PM em SP, as famílias denunciaram racismo.


http://diariosp.com.br/Noticias/Diaadia/6222/Mestrado+de+major+diz+que+PM+e+racista