sábado, 3 de abril de 2010

Preconceito na Justiça: Cresce número de ações por racismo e intolerância

Preconceito na Justiça

Cresce número de ações por racismo e intolerância

Uma pesquisa feita pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) nos tribunais estaduais, federais e do Trabalho revela o crescimento de ações motivadas por racismo e intolerância religiosa. De acordo com o levantamento, foram identificados 1.011 julgamentos. Pesquisa divulgada em 1997 mostrou que, de 1951 e 1996, havia apenas nove ações na segunda instância da Justiça do país sobre racismo e intolerância religiosa.

O levantamento do Ceert foi apresentado durante o lançamento do site da entidade, que aconteceu nessa terça-feira (29/9), na sede da seccional paulista da OAB. A pesquisa de jurisprudência contemplou Tribunais de Justiça de 24 estados, Tribunais Regionais Federais e do Trabalho, o Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal.

A pesquisa chama a atenção para o crescente número de decisões na Justiça do Trabalho que reconhecem o dano moral decorrente de discriminação racial, bem como o assédio moral resultante desta. De acordo com o levantamento, no período pesquisado, o número de decisões trabalhista envolvendo racismo e intolerância religiosa chegou a 356.

Na área cível dos tribunais do país, a pesquisa registrou 336 casos. Na criminal, foram 202 decisões. Dentre os tribunais estaduais, de um total de 430 acórdãos, o que mais registra julgados com os dois temas é o do Rio Grande do Sul, com 141, seguido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, com 66, Minas Gerais, com 52 casos, e São Paulo, com 25 julgamentos.

Nos Tribunais Regionais do Trabalho, cinco casos foram decididos na 2ª Região, que abrange a região metropolitana de São Paulo. Já nos trabalhistas, em primeiro lugar aparece o da 4ª Região (Rio Grande do Sul) com 68 decisões, seguido pela 12ª Região (Santa Catarina), com 62 casos, e a 15ª Região (Campinas), com 42.

“O número de processos vem aumentando nos últimos anos como reflexo do crescimento da consciência social sobre o problema do racismo”, explica o coordenador da pesquisa, o advogado e ex-secretário de Justiça de São Paulo, Hédio Silva Júnior. “Identificamos vários casos de indenização por danos materiais e morais decorrentes de racismo, o que mostra que juízes, promotores e advogados estão mais atentos à gravidade do problema.”

É o caso de decisão de 2008 do juiz Antônio Belasque Filho, da 5ª Vara Cível de Belo Horizonte, que condenou um motorista de ônibus a pagar indenização por danos morais a uma cobradora. O juiz também condenou a empresa de ônibus a indenizar a mulher ofendida.

A ofensa teria ocorrido três anos antes. Ao entrar no ônibus, a vítima conta que apresentou seu crachá da BHTrans. No entanto, o motorista disse que o crachá era falso e a obrigou a pagar a passagem. Ele também não acreditou no documento de identidade e terminou dizendo que não gostava de preto e chamou a mulher de “macaca”, segundo relato da vítima.

“Não há dúvidas de que o comportamento do empregado da empresa de ônibus atingiu direitos integrantes da personalidade da cobradora. Fazendo-se presente o sofrimento humano, a ofensa ao sentido de auto-estima, sem falar, ainda, na demonstração de desprezo às pessoas da cor negra”, anotou o juiz. “São também responsáveis pela reparação civil o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçal e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele.” O juiz determinou que a empresa pague R$ 4,1 mil de indenização para a cobradora.

Outro exemplo ocorreu em 2006, quando a seccional paulista da OAB promoveu sessão de desagravo em favor de dois advogados ofendidos por um procurador da República. Os dois eram defensores da TV Record e da Rede Mulher. Segundo eles, a agressão ocorreu durante audiência de conciliação num processo em que as emissoras de televisão eram acusadas de ofender as religiões afro-brasileiras. O procurador da República teria dito que os advogados das emissoras são “representantes da intolerância e do ódio religiosos no país”. A afirmação foi incluída no relatório da juíza que presidiu a audiência.




http://www.conjur.com.br/2009-set-30/aumenta-numero-acoes-racismo-intolerancia-religiosa

Vaticano enfrenta nova polêmica após declaração de padre sobre judeus

03/04/10 - 12h55 - Atualizado em 03/04/10 - 15h35

Vaticano enfrenta nova polêmica após declaração de padre sobre judeus

Pregador da Casa Papal comparou acusações à Igreja a antissemitismo.
Vaticano diz que declaração não corresponde ao pensamento da Igreja.

Do G1, com agências internacionais*

A comparação feita pelo pregador da Casa Papal entre os ataques a Bento XVI pelos escândalos de pedofilia e o antissemitismo deflagrou uma nova polêmica envolvendo a Igreja Católica em plena Páscoa.

Neste sábado (3), o Vaticano se apressou em justificar, que a declaração durante um sermão nesta sexta do padre não corresponde à linha de pensamento da Igreja.


"Fazer uma aproximação entre os ataques contra o papa pelo escândalo de pedofilia e o antissemitismo não é a linha seguida pela Santa Sé", afirmou o padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé à rádio Vaticano, neste sábado.

Lombardi disse ainda que o pregador "quis apenas tornar pública a solidariedade com o Papa expressada por um judeu à luz da particular experiência dolorosa sofrida por seu povo".

Mas ele reconheceu que "o fato de citá-la poderia suscitar mal-entendidos".

Na sexta-feira à noite, durante a liturgia da Paixão de Cristo, o franciscano, pregador da Casa Papal, leu uma carta de solidariedade com o Papa e a Igreja, que disse ter recebido de um amigo judeu.

"Com desgosto estou acompanhando os violentos e concêntricos ataques contra a Igreja, o Papa", escreveu o autor da carta. "O uso dos estereótipos, a passagem da responsabilidade e culpa pessoal para a culpa coletiva me recordam os aspectos mais vergonhosos do antissemitismo", acrescentou.

O Papa é acusado pela imprensa alemã e americana de ter acobertado casos de abusos sexuais de menores cometidos por padres quando era arcebispo de Munique e durante o período em que dirigiu a Congregação para a Doutrina da Fé.

Repercussão

A comparação provocou indignação nas comunidades judaicas europeias e americanas e o protesto de associações de vítimas de abusos sexuais cometidos pelo clero.


A declaração do pregador da Casa Papal durante o sermão da liturgia da Sexta-Feira da Paixão é de "mau gosto e inapropriada", afirmou o rabino de Roma Riccardo Di Segni.

"O paralelismo que se fez em São Pedro não tem razão de ser. São declarações completamente fora de propósito", declarou Di Segni em entrevista ao jornal La Stampa.

O rabino Di Segni, o mesmo que desafiou em janeiro as dúvidas de boa parte da comunidade judaica mundial ao receber Bento XVI na sinagoga de Roma, considerou a comparação "especialmente inoportuna, já que nenhuma pessoa da comunidade judaica interveio até agora nos escândalos de pedofilia da Igreja".

"Estes abusos são um problema da Igreja Católica e não corresponde a nós intervir nem fazer comparações que não podem ser feitas", disse.

'Insulto'

Na Alemanha, os judeus também manifestaram contrariedade. Para o secretário-geral do Conselho Central dos Judeus do país, a comparação é um "insulto".

"É uma impertinência e um insulto para as vítimas dos abusos sexuais, assim como para as vítimas da Shoah", declarou Stephan Kramer.

"O Vaticano recorre aos métodos habituais utilizados há décadas para sufocar e ocultar as histórias que afetam a Igreja Católica", completou.

Desculpas

Marvin Hier, rabino e fundador do Centro Simon Wiesenthal, uma organização de luta contra o antissemitismo, exigiu "desculpas" do Papa pelas "observações agressivas, vergonhosas, fora de propósita", além do que chamou de "deformação total da história".

Para ele "não é possível comparar os séculos de antissemitismo que levaram à morte de milhões de pessoas inocentes com criminosos que renegam sua fé e vocação agredindo sexualmente crianças".

Para David Clohessy, que dirige o SNAP, um grupo de defesa das vítimas dos padres pedófilos, "é um insulto, tanto para as vítimas de agressões sexuais como para os judeus".

O rabino Gary Greenebaum, responsável pelas relações interreligiosas no Comitê Judaico Americano, pediu aos dirigentes católicos que "não pratiquem a hipérbole".

Neste sentido, o rabino de Roma advertiu contra os "boatos" de que os ataques contra a Igreja teriam origem no lobby judaico, já que em alguns círculos católicos se afirma que a imprensa italiana é controlada por judeus.

*(Com informações da France Presse e da EFE)


http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1555838-5602,00-VATICANO+ENFRENTA+NOVA+POLEMICA+APOS+DECLARACAO+DE+PADRE+SOBRE+JUDEUS.html